COPRODUZIDO POR 5 PAÍSES, “NEGÓCIO DAS ARÁBIAS” CRITICA A GLOBALIZAÇÃO.

Por Celso Sabadin.

Num cinema dominado por protagonistas (heróis, super heróis, vilões) adolescentes e pré-adolescentes, não deixa de ser bem-vindo um filme sobre um personagem sessentão. Ele é Alan (Tom Hanks, mais careteiro do que nunca), um executivo que perdeu seu trabalho por causa da concorrência chinesa, e que se vê obrigado a encarar uma oportunidade de negócios na Arábia Saudita para garantir sua sobrevivência financeira.

Mas se o país, com todas as suas idiossincrasias culturais, já não é nada fácil para jovens executivos bombados e motivados, que dirá para um homem de meia idade repleto de problemas pessoais para resolver.

Na verdade, a maior parte do filme foi rodada em Marrocos e no Egito, não na Arábia Saudita, mas esta licença poética não é importante; faz parte da magia do cinema. Interessante mesmo é verificar como o diretor alemão Tom Tykwer (o mesmo de “Corra, Lola, Corra”) utiliza a grandiosidade seca das paisagens desérticas como metáfora da aridez emocional da vida de Alan. Com dificuldades em se relacionar com o próprio pai, e ameaçado pela ex-esposa de perder a casa, Alan tem apenas na filha o vislumbre de um pequeno oásis emocional. Enquanto isso, o tempo corre, e muito. Os espaços gigantescos do lugar se tornam cada vez mais difíceis de serem percorridos, o corpo não responde satisfatoriamente aos problemas de fuso horário, o patrão pressiona, e a ortodoxia dos costumes locais não ajuda em nada. Alan está à beira de um ataque de nervos, e sem poder tirar do rosto o falso sorriso de vendedor bem sucedido.

A partir do livro “Um Holograma para o Rei”, de Dave Eggers, “Negócio das Arábias” (título que erroneamente sugere uma comédia) estreou nesta quinta, 4 de agosto. Coproduzido por Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos e México, o filme é uma crítica aos efeitos da globalização. Ironia pouca é bobagem.