“CORAÇÃO LOUCO” TEM A PAIXÃO E A EMOTIVIDADE DA MÚSICA CAIPIRA.

Uma das primeiras cenas de Coração Louco já dá o tom do filme: o plano geral de uma estrada mostra vários carros indo numa determinada direção, enquanto uma velha camionete transita, solitariamente, no sentido oposto. Quem a dirige é Bad Blake (mais uma ótima interpretação de Jeff Bridges), cantor country decadente que ganha a vida se apresentando em espeluncas pelo interior dos Estados Unidos. É um personagem fascinante, eternamente na contramão, um outsider solitário perdido em tempos de consumismo fácil. Na linguagem popular, é o tipo do sujeito que foi para Woodstock a pé e está voltando agora. Um legítimo representante da cultura sexo, drogas… e música caipira.

É ele o portador do “coração louco” do título, um sujeito fiel aos seus princípios (seja lá quais forem), sedutor o suficiente para encantar seus velhos fãs mesmo embriagado até a tampa, e romântico o bastante para se apaixonar loucamente. E é o que ele faz: ao conhecer a jornalista Jean (Maggie Gyllenhaal, ótima como sempre), Bad Blake se entrega a este novo amor com a impulsividade daqueles que vivem um dia de cada vez. Ao contrário dela, mulher calejada pela vida, mãe de um garotinho, e – não sem razões – com todos os pés atrás.

É – também – em cima desta dicotomia que o diretor e co-roteirista Scott Cooper (mais conhecido como ator, estreando agora na direção) monta este autêntico e sensível road movie country todo filmado pelo empoeirado sul norte-americano.

Além da temática romântica, há ainda uma atraente sub-trama musical e empresarial que contrapõe o veterano Blake com o jovem astro Tommy Sweet (Colin Farrell). Antítese de Blake, Tommy é o retrato do novo sertanejo que deu certo, com seus shows de produção mirabolante e gigantescos caminhões de produção. Ironicamente, porém, Tommy precisa de Blake para compor novas canções, posto que os novos compositores não o satisfazem. Significativo: o gigantismo das mega produções mercadológicas se vê obrigado a recorrer a um velho e solitário “coração louco” para suprir a poderosa indústria com aquilo que ela mais necessita para sobreviver: a paixão das composições country.

No final das contas (não, não vamos contar o final do filme), percebe-se que Bad Blake fez de sua própria vida uma gigantesca música country: chorosa, repleta de dor de cotovelo, sentida, doída, sentimental… mas profundamente bela e tocante. Como este belo e tocante filme que vem colecionando vários prêmios e indicações.