“CORINGA”: CONTRASTES CONDUZIDOS COM SUTILEZA ADMIRÁVEL.

por Teo Sabadin.

No filme, Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) é um homem solitário com fortes distúrbios psicológicos que se vê obrigado a interromper suas consultas psiquiátricas e, por consequência, deixar de tomar seus medicamentos. Em paralelo, este mesmo homem perde o emprego após alegações falaciosas de seu comportamento no trabalho. É neste promissor cenário que vemos os primeiros sinais de Coringa se formando. Nessa perspectiva, começamos a criar uma calculada empatia pelo personagem, fazendo seus surtos e ações explosivas parecerem quase aceitáveis ou legítimos.

A atmosfera que ora te aproxima ora te repele de Arthur é primordial para desenvoltura do roteiro. Existem cenas as quais julgamos friamente as atitudes do protagonista e, minutos depois, estamos dando risada de situações que tangem o humor agressivo do Coringa, como exemplifica a cena do anão ao tentar sair do apartamento. Ao criar essa dinâmica, se desestrutura o poder crítico do espectador que fica desmoralizado para julgar quaisquer outros comportamentos expostos no filme. Todd Phillips conduziu esses contrastes com uma sutileza admirável.

O clima de Gotham enquanto cidade sombria, caótica e abandonada foi construído de forma gradual e ajuda a criar o ar anárquico que se fortalece ao decorrer do enredo. A figura de um palhaço justiceiro solto pela cidade mobiliza, de maneira espontânea, centenas de cidadãos que se veem à margem do sistema, criando uma grande sociedade de palhaços mascarados em conflito com o governo e as grandes corporações.

Coincidentemente ou não, os filmes críticos ao sistema têm ganhado bastante visibilidade, o coreano “Parasita” e o brasileiro “Bacurau” se juntam ao “Coringa” nessa lista. O longa levou o Leão de Ouro em Veneza e já bateu 543,9 milhões em bilheteria mundial, valor considerável por ter classificação indicativa entre 16 e 18 anos, orçamento de 55 milhões e não ter estreado na China. Na quinta-feira, 17/10, Coringa entra em sua terceira semana de exibição.