“CORPO ELÉTRICO” E O TORPOR IMOBILISTA DE UMA GERAÇÃO. OU DE UM PAÍS.

Por Celso Sabadin.

“Corpo Elétrico”, estreia na direção de longas do premiado Marcelo Caetano, não apresenta exatamente uma linha dramatúrgica classicamente definida com os tradicionais começo, meio e fim. O filme é mais o retrato de uma situação, de um momento, de um estado de coisas. O fio condutor é Elias (Kelmer Macedo), um jovem estilista que trabalha numa confecção em São Paulo. É através dele que o roteiro de Gabriel Domingues, Hilton Lacerda e do próprio diretor montam um pequeno e afetivo painel comportamental a respeito da sobrevivência e das pequenas grandes coisas da vida.

Com simplicidade e extraindo extrema naturalidade de todo o seu elenco, “Corpo Elétrico” aborda o cotidiano não só do protagonista como também das pessoas que em torno dele gravitam, como seus colegas de confecção, amores, amizades, paixões passageiras. Sem nenhum tipo de panfletarismo, tangenciam-se temas como situações de trabalho, migração, solidão, superficialidade de relações, sonhos e aspirações.

Um certo “nada acontecer” que permeia toda a narrativa vem acompanhado de um certo “nada mudar” de seus personagens, um torpor vazio que sinaliza de maneira indelével o atual imobilismo de toda uma sociedade sufocada pela necessidade diária e premente de apenas cumprir horários e tentar sobreviver. Se possível, com sexo, álcool e bom humor, que ninguém é de ferro.

A estreia é nesta quinta, 17 de agosto.

“Corpo Elétrico” concorreu no Festival de Roterdam e foi escolhido como o melhor filme do Festival de Guadalajara, no México.