“CORRIDA MORTAL” GANHA ROUPA NOVA NO FIM DA ERA BUSH.

O maior mérito de um filme de aventura/ ação/ porrada (ainda vão inventar esta classificação nas prateleiras das locadoras) é quando ele não se leva a sério. E disso ninguém pode reclamar de “Corrida Mortal.” Ele pode ser tudo – barulhento, previsível, violento, raso – mas ninguém poderá acusá-lo de pretensioso. Sem medo de ser bobo, “Corrida Mortal” é apenas uma grande brincadeira. Um autorama gigantesco para crianças crescidas. E por isso mesmo, diverte.

Mistura de “Mad Max” e “Rollerball”, com pitadas de “Fuga de Nova York”, “Corrida Mortal” se passa no ano de 2012, momento em que o mundo está numa gigantesca crise econômica (uia!). Cada vez mais lotados e violentos, os presídios foram privatizados, e agora visam lucro. Mais ou menos como acontece com os grandes estúdios cinematográficos de hoje, as prisões da época também não têm o mínimo escrúpulo em criar estratégias de marketing para aumentar o faturamento, doa a quem doer. Ou, no caso, mate a quem matar.
Assim, o presídio de segurança máxima que leva o sugestivo nome de Terminal cria uma corrida de automóveis entre os seus detentos. O prêmio ao vencedor será a liberdade. E aos competidores tudo é permitido, inclusive metralhar e bombardear os oponentes. Explorando a morte e a violência, a administração penitenciária vende para a internet, com altíssimos lucros, pacotes “pay per view” deste verdadeiro Coliseu do século 21.

Como nada se cria, nada se perde, tudo se refilma, cinéfilos mais “antigos” vão perceber que a trama é muito parecida com a produção francesa “O Preço do Perigo”, de 1983, refilmada quatro anos depois pelo cinema americano como “O Sobrevivente”, com Arnold Schwarzenegger. Aliás, o próprio “Corrida Mortal” também é uma refilmagem de “Corrida da Morte – Ano 2000”, com Sylvester Stallone, no distante ano de 1975. Como se percebe, roteiros exatamente “originais” andam cada vez mais difíceis.

De qualquer maneira, justifica-se que em pleno ano 2008 o cinema americano retome a antiga onda truculenta que fez as carreiras de Chuck Norris, Stallone, Schwarzenegger, Van Damme, Steven Segall e muitos outros, da virada dos anos 70 até o final dos 80. Hoje, como ontem, o país também vive uma era de violência humana e política comandada por um presidente linha dura. Talvez as coisas mudem a partir do próximo ano, com a derrocada da Era Bush.

Enquanto isso não acontece, assistir a “Corrida Mortal” é um entretenimento inofensivamente violento produzido por Roger Corman, o grande mestre dos chamados “Filme B”, cineasta que em seus (até agora) 54 anos de carreira, já assinou quase 400 filmes!
O papel principal foi entregue ao eficiente inglês Jason Statham (de “Efeito Dominó” E “Adrenalina”), com direção do também inglês Paul W.S. Anderson, de “Resident Evil e “Alien vs. Predador.” Completam o elenco Joan Allen (praticamente repetindo o mesmo papel que fez em “Ultimato Bourne”) e a sensual estreante Natalie Martinez. O que uma bela mulher faz dentro de um presídio de segurança máxima? Ela só está lá para aumentar a audiência. A frase não é minha. É de dos personagens do próprio filme. Isso explica tudo, e mais um pouco.