Da Cama para a Fama

Espanha, anos 70. Alfredo (Javier Câmara, de Fale com Ela e Má Educação) é um esforçado vendedor de enciclopédias que cada vez mais perde seu espaço no mercado de trabalho para os fascículos vendidos em bancas de jornais. Fora do seu tempo, só há uma maneira de Alfredo manter e emprego: aceitando a estranha proposta de Carlos (Juan Diego), o dono da editora, que quer ingressar no mercado de filmes “científicos”. A idéia de Carlos é que Alfredo filme a si próprio mantendo relações sexuais com a esposa Carmen (Candela Peña, de Tudo Sobre Minha Mãe) sob o pretexto de uma suposta enciclopédia de hábitos de acasalamento humano que só seria vendida na Dinamarca. Incentivado por Carmen, que deseja o dinheiro para realizar o sonho de ter um filho, Alfredo aceita. O problema é que quanto mais o casal faz filmes, mais Carmen se apaixona pela idéia de ter um filho, e mais Alfredo se apaixona pelo cinema.
O diretor e roteirista estreante Pablo Berger deixa escapar uma excelente oportunidade de fazer uma grande comédia, uma grande sátira. O filme sinaliza boas idéias, mas não as desenvolve nem as aprofunda com um mínimo de criatividade cinematográfica. O sarcasmo das primeiras cenas, onde o protagonista tenta vender uma enciclopédia sobre a Guerra Civil Espanhola, com direito a um busto em miniatura do General Franco, não ganha um desenrolar satisfatório no decorrer da trama. Da metade para o final o filme abandona seu tom cômico e tenta se apoiar no drama romântico, e acaba derrapando. Sua suposta crítica ao consumo cultural, que troca livros por fascículos em bancas, e posteriormente por filmes pornográficos, também fica no meio do caminho. Da Cama para a Fama quase nunca consegue superar a classificação de apenas “simpático”, mesmo chegando ao Brasil amparado por várias indicações e premiações nacionais e internacionais, incluindo quatro indicações ao Goya.
Porém, justiça seja feita: a sessão de imprensa foi realizada sob as péssimas condições de projeção do cine HSBC Belas Artes. Talvez, num bom home teather, o filme “melhore”.