“DANÇARINO DO DESERTO” ABORDA A ARTE COMO FORMA DE RESISTÊNCIA.

Por Celso Sabadin.

Uma boa e uma má notícia para quem for assistir a “Dançarino do Deserto”. A boa: trata-se de uma bela história de resistência, arte, amor e política. A má: a direção dá umas escorregadelas no melodrama e deixa o filme com jeitão meio novelesco. Dá pra curtir? Se você não for exigente demais, dá.

O roteiro de Jon Croker (o mesmo de “A Mulher de Preto 2”, o que não significa lá muita coisa) é baseado na história verídica de Afshin Ghaffarian (Reece Ritchie), um rapaz totalmente apaixonado pela dança. O que não seria problema nenhum, não tivesse ele nascido no Irã, país onde dançar é proibido. Afshin não apenas quer dançar como convence seus colegas de faculdade a montar um grupo clandestino de dança. Mesmo que eles jamais possam se apresentar em público. Não no Irã.

O tema é dos mais apaixonantes Afinal, não há como não criar empatia por um personagem que extravasa na arte todo o sofrimento causado pela repressão, que trafega na contramão de uma sociedade que só busca retornos monetários ou midiáticos, que se dedica de corpo e alma a uma atividade pelo simples prazer que ela lhe proporciona. Que quer, apenas e tão somente, dançar. Mesmo que seja no deserto.

Talvez para não dar ao protagonista uma roupagem de alienação, o filme também mostra a força da arte como elemento de inclusão política, de resistência, de abertura de olhos, corações e mentes. Tudo muito bem amarrado. “Dançarino do Deserto” esbarra, porém, na direção do estreante inglês Richard Raymond, que optou pela busca das emoções fáceis através de um estilo narrativo que se assemelha mais ao telenovelesco que propriamente às sutilezas cinematográficas. Ainda que, verdade seja dita, ele se saia bem nas cenas de dança.

Frontalmente contrário ao governo de Ahmadnejad, o filme foi rodado em Marrocos.