“DE GRAVATA E UNHA VERMELHA” RESPEITA COM HUMANIDADE A DIVERSIDADE DO “CROSS-DRESSING”.

 

Por Celso Sabadin

 

Por que um homem sente vontade de vestir-se de mulher? E por que uma mulher sente vontade de vestir-se de homem. A prática, denominada “cross-dressing”, é muito mais ampla e desconhecida do que se pode supor. E, com certeza, muito confundida com outras formas de manifestações sexuais. Investigar este universo repleto de nuances é a proposta da roteirista e cineasta Miriam Chnaiderman em “De Gravata e Unha Vermelha”, vencedor do Prêmio Félix de Melhor Documentário na Première Brasil no Festival do Rio 2014.

A primeira boa noticia é que a diretora, mesmo sendo psicanalista,  não utilizou “psicologuês” em seu filme. Acertadamente ao meu ver, Miriam optou por não transformar a sala de cinema em consultório, preferindo focar na discussão humana de seus depoentes a buscar interpretações e explicações em profissionais da saúde. Ponto para o documentário, que coleta assim uma riquíssima gama de boas histórias sobre o tema. Histórias sofridas, divertidas, dolorosas, profundas, debochadas, mas acima de tudo com um alto grau de verdade e humanismo.

Há desde depoentes que se vestem com a roupa do sexo oposto apenas para brincar no carnaval (pelo menos é o que eles afirmam), até casos mais complexos de mudança de sexo. Ou seja, é a diversidade dentro da diversidade, a complexidade  de um assunto ainda envolto em diversas camadas de dúvidas, estranhamentos e preconceitos. E que o filme contempla com admirável desenvoltura e até leveza.

São entrevistados desde cross-dressers anônimos, até os mais públicos, como o cartunista Laerte, Rogéria (que afirma que é preciso ser muito macho para se travestir), o estilista Dudu Bertholini, e até Ney Mato Grosso, mais que um cross-dresser, uma interessante personalidade que afirma ter descoberto a verdadeira dimensão de sua arte somente após ter se escondido sob uma pesada maquiagem que o tornou irreconhecível, na época do grupo Secos & Molhados.

Autora de livros sobre psicanálise, desde 1994 Miriam Chnaiderman também se dedica a fazer cinema, já tendo lançado os documentários: “Dizem que sou Louco” (1994), “Artesãos da Morte” (2001) e “Sobreviventes” (2008).