“DE LONGE TE OBSERVO” VÊ DE PERTO A CRUELDADE HUMANA.

Por Celso Sabadin.

Coproduzido por Venezuela e México, “De Longe Te Observo” é a primeira obra latino americana a ter vencido o cobiçado Leão de Ouro, prêmio principal do Festival de Cinema de Veneza. Só isto já valeria a olhada. Mas o filme vale ainda mais que a importância de sua própria premiação: trata-se de uma obra intensa sobre vingança, manipulação de sentimentos e os limites da maldade humana. Tudo sob o tempero da violência gerada pela desesperança.

Em “De Longe Te Observo”, o roteirista e diretor venezuelano Lorenzo Vigas estreia no longa metragem examinando o intrigante e gradual processo de sedução entre  dois protagonistas: Armando (o chileno Alfredo Casto), o mais velho, um aparentemente pacato protético dentário ; e Elder (Luis Silva), um jovem marginal da periferia de Caracas. De formas diferentes, ambos foram maltratados pela vida. Armando tem uma relação confltuosa com o pai, que não chegará a ser desvendada pelo filme (nem é importante que seja), mas que será o catalisador de toda a ação. E Elder, fruto de uma sociedade desigual, cresceu aprendendo a utilizar a volência como arma e escudo.

A cruel poética do filme reside em desvendar, camada por camada, o processo maquiavélico pelo qual Armando meticulosamente desmonta as caapaças de Elder para depois transformá-lo em sua própria presa e instrumento de vingança. Impossível não se estarrecer, terminada a projeção,  com os limites – ou a falta deles – da maldade humana.

E como se o tema já não fosse suficientemente perturbador, em determinadas cenas Vigas ainda se utiliza de equadramentos pouco convencionais, levantando mais do que seria normal a parte posterior do quadro, como que degolando ou sufocando seus personagens.

Com argumento original do mexicano Guillermo Arriaga (o mesmo autor de “Babel”, “21 Gramas” e “Amores Brutos”) e montagem da brasileira Isabela Monteiro de Castro (de “O Céu de Suely” e “Praia do Futuro”), “De Longe Te Observo” estreia em 28 de julho.