“DE MENOR” ACERTA AO ABRIR NOVOS CAMINHOS NARRATIVOS PARA O TEMA DO JOVEM CARENTE.

Não. Não é mais um filme sobre os problemas do menor carente. E também nada tem de panfletário, reivindicativo, piegas, assistencialista ou pseudossocial. “De Menor” é, acima de tudo, uma grande obra cinematográfica, eficiente e talentosa ao tratar, com linguagem minimalista, um tema dos mais agudos. Ou vários deles.

A trama gira em torno de Helena (Rita Batata, de “Não por Acaso”, excelente), uma jovem advogada defensora de crianças e adolescentes. Longe do heroísmo estoico que nos acostumamos a ver em filmes estrangeiros, Helena é uma personagem extremamente humana e crível, que faz o que está ao seu alcance – às vezes até extrapolando as obrigações de sua profissão – para tentar dar um pouco mais de humanidade aos jovens que defende. Tamanha é sua dedicação ao trabalho que lhe passa despercebido o fato que seu próprio irmão, Caio (o estreante Giovanni Gallo), pode ser ele próprio uma faceta dos problemas que Helena diariamente enfrenta nas cortes.

Ao desglamurizar totalmente o ambiente dos tribunais e advogados, “De Menor” cria instantaneamente um forte laço de identificação com a plateia, um vínculo que se torna cada vez mais sólido quanto mais acompanhamos, em estilo sóbrio e limpo, a trajetória de vida destes dois irmãos que formam a base do filme.

A roteirista e diretora Caru Alves de Souza (talvez “contaminada” pelo DNA de cineasta de sua mãe, Tata Amaral) não dá aqui a menor mostra que este é o seu longa de estreia, tamanha a maturidade com que domina os enquadramentos, o fluxo da narrativa e principalmente os tempos deste filme que envolve da primeira à última cena. Ela presenteia seus atores com generosos closes, olhares, tempos sem pressa, ao mesmo tempo em que obtém momentos de intensa força dramática
e extrai de todo o elenco – da protagonista ao menor coadjuvante – interpretações memoráveis.

Não por acaso, “De Menor” vem colecionando prêmios por onde passa. Após vencer a Première Brasil do Festival do Rio 2013 – onde foi eleito melhor filme junto com “O Lobo Atrás da Porta”, e considerado pela crítica como “a surpresa do festival” – o filme foi selecionado para os Festivais de San Sebastián (Espanha), Toulouse e Biarritz (ambos na França), e Havana (Cuba). E Rita Batata foi eleita melhor atriz no Festival do Cinema Sul-Americano de Marselha, na França, e no Cinemato – Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá.

O tema pode ser de menor, mas o talento é de maior.