DE NIRO INVESTIGA AS ORIGENS DA CIA NO TOCANTE “O BOM PASTOR”

Há muito tempo Robert De Niro está fora da sua melhor forma, como ator. Já vão bem longe os tempos gloriosos de “Touro Indomável”, “Táxi Driver” e “Era uma Vez na América”, entre outros. Porém, De Niro consegue reinventar sua carreira mostrando-se um produtor e diretor de talento no denso e comovente “O Bom Pastor”. O drama – que nada tem a ver com o premiado “O Bom Pastor” de 1944, que no original se chamava “Going My Way” – é um projeto pessoal de Robert De Niro, que trabalhou nele durante os últimos dez anos.
Numa primeira leitura, o filme mostra os bastidores da formação da CIA, a agência de inteligência norte-americana, desde as origens nos tempos da 2a. Guerra Mundial, até a crise de Cuba, na Guerra Fria dos anos 60. Neste sentido, é um trabalho de fôlego histórico, com quase três horas de duração, eficiente reconstituição de época e um roteiro cheio de idas e vindas que exige atenção total do espectador.
Porém, o sub texto mais tocante e melhor desenvolvido aborda as relações pai/filho. No papel principal, Matt Damon é Edward Wilson, personagem parcialmente inspirado em James Jesus Angelton, o fundador da CIA. Ele é um menino que cresce perturbado pelo suicídio do pai, aluno brilhante que freqüenta as melhores escolas, e através de uma irmandade secreta é convidado para integrar o Escritório de Serviços Estratégicos, precursor da CIA, durante a 2a Guerra Mundial. Edward se entrega de corpo, mente, alma e ideologia ao trabalho secreto, o que o impede de ter uma vida normal. Esposa, filho, vida social, amigos, tudo isso é negligenciado e substituído pela máxima da espionagem: “Jamais confie em ninguém”.
O toque tristemente irônico de toda a situação reside no fato de que toda a angústia e o sofrimento que o pai suicida de Edward causou ao seu filho, de certa maneira será repetido na geração futura, como que num círculo vicioso de dor proporcionado pela sujeira da política e das guerras. São relações humanas destruídas, geração após geração, pela falsidade das relações supostamente diplomáticas.
“O Bom Pastor” é o segundo longa-metragem dirigido por De Niro, após o eficiente “Desafio no Bronx”, de 1993, que pouca gente viu. Como produtor, através de sua empresa própria (a Tribeca), De Niro já assinou quase 30 filmes, mas nenhum de seus projetos anteriores havia sido tão autoral e tão ambicioso. Com roteiro de Eric Roth (o mesmo de “Munique” e “Forrest Gump”), “O Bom Pastor” conta com um elenco de encher os olhos, incluindo Angelina Jolie, William Hurt, John Turturro, Keir Dullea, do clássico “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, além de uma rápida participação especial de Joe Pesci, que proporciona um dos melhores diálogos do filme.
Sob todos os aspectos (incluindo sua duração), trata-se de um grande filme, que merece ser visto com a atenção de um agente secreto, e o coração aberto de um pai.