DE PRODUÇÃO CAPRICHADA, “O FÍSICO” EXPLORA O FASCÍNIO DO ANTIGO ORIENTE.

É inegável o fascínio que nós, ocidentais, temos pela milenar cultura oriental. O imaginário coletivo das histórias das 1001 noites, sultões, haréns e todos os praticamente indecifráveis códigos morais e religiosos do oriente nos enchem de sonhos e mistérios. Bom, pelo menos pra mim funciona assim. Foi nesta vibração que as duas horas e meia de projeção de “O Físico” passaram voando pra mim. E se mais meia hora o filme tivesse, mais meia hora eu viajaria nos seus exóticos ícones.

Apesar de se fundamentar num personagem que realmente existiu (o cientista, médico e pesquisador Ibn Sina, interpretado por Ben Kinglsey), o filme é totalmente ficcional, adaptado do best-seller que Noah Gordon publicou em 1999. Tudo se passa no século 11, quando o garoto inglês Rob Cole (Tom Payne), traumatizado pela morte da mãe que não conseguiu curar, decide estudar “Medicina” numa época em que a palavra sequer existia. Rob fica sabendo que a melhor escola do mundo no setor fica do outro lado do mundo, na Pérsia, e que ser admitido por ali é tarefa quase impossível. Impulsionado por sua obsessão, o rapaz decide enfrentar todas as dificuldades para tentar ser discípulo do grande mestre Ibn Sina (o nome também é grafado como Avicena, em vários idiomas, facilitando sua pronúncia).

“O Físico” proporciona diversos níveis de leitura. Além de mergulhar no fascinante universo do Oriente de mil anos atrás, ele levanta também questões das mais atuais, como a interferência religiosa nas decisões políticas (lembrando que a antiga Pérsia é o atual Irã), intolerância, preconceitos, traições cometidas em nome do poder, e principalmente os atrasos que os dogmas religiosos impingem ao desenvolvimento. Para quem gosta, há até um romance aventuresco.

De narrativa linear, clássica e convencional, “O Físico” tem uma produção das mais caprichadas, com belas locações nos desertos marroquinos, figurinos, ambientações e reconstituição de época repletas de riqueza e verossimilhança.
Apesar de originalmente falado em inglês, visando o mercado externo, a produção é totalmente alemã, e concorreu a 6 German Film Awards.