“DE QUANTA TERRA PRECISA O HOMEM?”: BEM INTENCIONADO  E AUTO-REFERENCIAL. 

Por Celso Sabadin. 

Neste delicado momento do nosso país, no qual a sociedade se polariza entre as pautas progressistas humanistas e as reacionárias violentas, a estreia do documentário “De Quanta Terra Precisa O Homem?”  (tomando emprestado o título da obra de Liev Tolstói) é das mais bem vindas. Afinal, informação com precisão e contextualização histórico-econômica-social é uma de nossas maiores carências e necessidades. 

Neste sentido, o longa é uma preciosa ferramenta que pode auxiliar – pelo menos um pouco – a eliminar o antigo e errôneo preconceito de que quem luta pela terra e pela sobrevivência seria apenas um “comunista baderneiro”, como dizem os mal informados. Ou simplesmente os mal intencionados. 

Numa primeira leitura, o filme traz uma grande variedade de depoimentos que esclarecem e enaltecem a verdadeira importância do MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Em contraposição às imagens reducionistas que há décadas são veiculadas pela grande mídia – nas quais tudo não passaria de um bando de desocupados invadindo as terras de fazendeiros trabalhadores – “De Quanta Terra Precisa o Homem?” mostra a real dimensão do movimento, suas cooperativas, seus trabalhos sociais, e sua capacidade de produzir alimentos de melhor qualidade a preços mais acessíveis e democráticos. 

Há, porém, um incômodo que não tem como passar despercebido: em vários momentos, o documentário se preocupa muito mais em documentar o seu próprio produtor, Eduardo Moreira, fundador do ICL – Instituto Conhecimento Liberta, entidade que realiza o filme. Sem dúvida é louvável a trajetória deste ex-banqueiro que teve seus olhos abertos para a luta social brasileira, e que atualmente se dedica a produzir e difundir informação de qualidade, mas as muitas ego trips que permeiam o roteiro acabam enfraquecendo o que deveria ser o cerne da obra.  

Relevando-se esta questão (e também a excessiva e ininterrupta trilha musical que não dá um minuto de silêncio ao longa), “De Quanta Terra Precisa o Homem” se mostra eficiente em sua proposta de combater um dos grandes preconceitos que infelizmente ainda minam a urgente questão agrária no Brasil.  

A estreia em cinemas é nesta quinta, 28/11. 

 

Quem dirige 

Adilson Mendes  é historiador pela Universidade Estadual Paulista (2000), com mestrado (2007) e doutorado (2012) com habilitação em cinema pela Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Curadoria e História, com ênfase em História do cinema e patrimônio audiovisual, com pesquisas principalmente nos temas: cinema e história; cinema e literatura; cinema e educação; cinema e antropologia. Foi pesquisador da Cinemateca Brasileira (2000-2013), onde realizou trabalhos de curadoria, edições, restaurações. No Instituto Butantan (2014-2017) desenvolveu curadorias sobre história da ciência e cinema, assim como coordenou e participou de edições científicas. Na Fundação Armando Alvares Penteado (2018) ministrou aulas de documentário no curso experimental de pós-graduação em documentário. Em 2019, ministrou curso de história do cinema na Universidade Anhembi Morumbi. Atualmente é membro do grupo de pesquisa, inscrito no CNPq, Narrativas Tecnológicas, que está inserido no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, onde desenvolve pesquisa de pós-doutorado. Realiza trabalhos de difusão científica ligados ao audiovisual para o Instituto Conhecimento Liberta. É diretor do documentário TEMPO RUY (2021).