DE TÃO TÊNUE, ARGENTINO “FILHA DISTANTE” QUASE EVAPORA NO AR.

Já brinquei algumas vezes com a categorização de filmes que, para mim, vai muito além, dos tradicionais “drama”, “comédia”, “ficção científica”, etc. Popularmente, a gente ouve por aí classificações mais divertidas, como “filme lindo”, “filme papo-cabeça”, “filme de prestar atenção” e “filme que não acontece nada”. Esta última tende a ser meio negativa e preconceituosa, mas particularmente gosto muito deste tipo de trabalho que, numa avaliação mais apressada, “não acontece nada”, mas que traz várias camadas de leitura sutilmente escondidas sob belos roteiros aparentemente superficiais.

Tudo isso para dizer que “Filha Distante”, do argentino Carlos Sorín, é exatamente um destes filmes onde “não acontece nada”. Na superfície. Enxuta, a trama acompanha o cinquentão Marco (Alejandro Awada) que viaja até a Patagônia para tentar se reencontrar com a tal filha distante do título em português (o original é “Dia de Pesca”). Na tentative de se auto-justificar nesta longa viagem que pode dar em nada, Marco busca enganar a si próprio dando ao “passeio” um caráter de lazer: quer aprender a pescar tubarões. Com todos os simbolismos que o ato possa significar.

Há uma série de formulações previamente prescritas nesta singela receita de sucesso artistico que o filme avia: a imensidão e a solidão da Patagônia fazendo eco com o vazio de um protagonista que abandonou o sonho de ser cantor para ser representante de vendas; a presença de um personagem que, não por acaso, luta literalmente pela sobrevivência através do box; longos planos introspectivos; largos horizontes; emoções que não explodem; abismos familiares não explicitados.

Tudo muito bem dirigido pelo hábil Sorín e bem interpretado por um elenco que mistura profissionais com não atores. Porém, o fio que conduz a narrativa é tão tênue e frágil que parece que se romperá a qualquer momento. Ou se dissipará no ar.
Como já disse, gosto muito dos chamados filmes onde “não acontece nada”. Mas aqui fica a sensação que o filme ficou muito mais na intenção do realizador que propriamente na tela.