DEBATES SOBRE INTOLERÂNCIA RELIGIOSA ATUALIZAM “14 ESTAÇÕES DE MARIA”.

por Celso Sabadin.

Em tempos de intensas discussões sobre fundamentalismo religioso, vale lembrar que não é apenas o Islã, mas sim várias culturas e suas respectivas religiões que sofrem e causam sofrimento com a ignorância do extremismo e da intolerância. No caso de “14 Estações de Maria”, o diretor e roteirista Dietrich Brüggemann (neste que é o seu quarto longa, o primeiro a chegar ao circuito brasileiro) volta suas lentes para o fundamentalismo católico ao retratar a trajetória de Maria (a estreante Lea van Acken) uma garota de apenas 14 anos de idade. afundada nas trevas do obscurantismo que muitas vezes as religiões provocam.

Para ela e sua família, tudo é pecado, tudo é proibido. O convívio social é praticamente impossível. Nos primeiros momentos do filme, existe até uma dificuldade em se notar que ele se passa nos dias atuais. Apoiada por um padre igualmente radical (Florian Stetter, de “Duas Irmãs, Uma Paixão) de sua igreja, Maria nutre o ideal de ser tão pura e benevolente quanto o próprio Jesus Cristo, que deu sua vida pelo próximo. Não é difícil imaginar como esta história termina.

O radicalismo e o extremismo do pensamento da protagonista estão sintonizados com o rigor formal do filme: “14 Estações de Maria” tem rigorosamente 14 planos, sendo 10 deles rodados com a câmera fixa. Em apenas quatro o diretor se permite alguma movimentação. A ideia, além de ilustrar cinematograficamente o imobilismo de Maria, é mimetizar, na tela, o que a cultura cristã conhece como “Via Sacra”, quadros onde são retratados, sempre sob um mesmo ponto de vista, cada passo da crucificação de Cristo. Se o resultado é incômodo e instigante, provavelmente esta teria sido de fato a intenção do diretor, ao retratar um tema tão perturbador e que, contrariamente ao que se pensa, ainda persiste em várias comunidades até os dias de hoje.

“14 Estações de Maria” ganhou os prêmios de Roteiro e Melhor Filme pelo Júri Ecumênico no Festival de Berlim.