“DEIXE-ME ENTRAR” REFAZ SUCESSO EUROPEU COM ESTILO AMERICANO.

Os remakes são feitos, basicamente, por duas razões. Primeira: dar nova roupagem a um filme antigo para apresentá-lo às novas gerações. Leia-se “a um novo mercado”. Segundo: traduzir para o mercado norte-americano um bom roteiro feito por um país de língua não inglesa, já que as pesquisas comprovam que os habitantes
da terra de Obama detestam não somente ler legendas como também ver filmes sem seus astros conhecidos.

O remake americano do sueco “Deixa Ela Entrar”, que chega aos nossos cinemas com o título de “Deixe-me Entrar”, cabe na segunda opção. O ótimo filme europeu, elogiado mundialmente (inclusive por aqui) precisava ser apresentado ao público (mercado) norte-americano. Mas, para isso, era obrigatório refazê-lo em inglês, com atores mais conhecidos, para as plateias norte-americanas. Nada contra. A pergunta é: o que o público brasileiro tem com isso? Que motivos nos levariam a assistir a este prato requentado? Na minha opinião, nenhum.

Não que “Deixe-me Entrar” seja um filme ruim, nada disso. Mas o original é infinitamente melhor, como quase sempre acontece. Por que, então, assistir a uma cópia pálida, refeita para agradar aos padrões hollywoodianos, se o ótimo, criativo e sensível original já está nas videolocadoras? Ou você conhece alguém que não suporte ouvir um filme falado em sueco?

Os estilos são diferentes, mas a história é a mesma. Owen (o australiano Kodi Smit-McPhee, de “A Estrada”) é um garoto tristonho e solitário que conhece Abby (Chloe Moretz, que esteve em “500 Dias com Ela”), não menos solitária, mas muito mais estranha. Owen tem 12 anos, e Abby tem 12 anos faz muito tempo. Não é nenhum segredo para o público que a garota na verdade é uma vampira, com todas as crises existenciais, emotivas e de auto-estima que os vampiros geralmente têm. O filme é muito mais centrado na belíssima relação que se desenvolve entre os dois pré-adolescentes que propriamente nos cânones de horror que muitas vezes regem este gênero cinematográfico. Aliás, ambos os filmes – original e remake – são assim.

O problema é que esta versão americana (coproduzida com os ingleses), como não podia deixar de ser, carrega um pouco nas tintas para agradar às platéias mais chegadas aos blockbusters. A música, por exemplo, é incessante (é impressionante o medo que os produtores comerciais têm do silêncio!), a subtrama policial ganha mais destaque (será que já foi feito na historia do cinema um filme americano onde não apreça nenhum policial?) e o encanto e a sutileza que vimos na produção sueca se diluem entre um punhado de concessões comerciais. Seria algo assim como uma colherada de catchup num prato típico sueco. Felizmente, o bom diretor Matt Reeves (o mesmo de “Cloverfield – Monstro”) não permitiu que a coisa desandasse, e soube como manter, pelo menos parcialmente, alguns bons elementos do filme original, como a bela fotografia escura, o clima gélido e as ótimas interpretações, por exemplos.

Ou seja, “Deixe-me Entrar” não faz feio para quem não viu “Deixe Ela Entrar”. Mas faz, para quem o viu. Se vale muito mais a pena assistir ao original, por que devemos nos contentar com a cópia?