“DELÍRIOS” ESMIÚÇA COM BOM HUMOR O MUNDO DAS FUTILIDADES

Em tempos de Big Brother, revisitar o universo das celebridades fúteis e vazias sob um prisma mais inteligente nunca é demais. Assim, é mais que bem-vinda a estréia – ainda que tardia – do premiado “Delírios” no circuito brasileiro. Produzido em 2006 e vencedor de importantes prêmios em festivais internacionais, “Delírios” enfoca o explosivo encontro entre dois personagens que vivem universos diametralmente opostos e que – mesmo assim – conseguem travar um relacionamento repleto de nuances.

Les (Steve Buscemi, ótimo como sempre) é um paparazzo de poucos escrúpulos que vive como um urubu atrás de celebridades que possam – quem sabe um dia – finalmente lhe proporcionar a tão sonhada foto milionária. Através das famosas armadilhas do destino, ele conhece Toby (Michael Pitt), um jovem morador de rua que sonha sem ator. Les é uma raposa, um verdadeiro caçador, sempre a procura de uma presa. Toby é de uma ingenuidade infantil. E ambos passam a conviver sob o mesmo teto, repartindo os mesmos trabalhos e os mesmos amigos. Um, porém, é aquilo que a sociedade classifica como “bonito”. O outro, “feio”. E isso – para o bem e para o mal – fará toda a diferença num mundo comandado pela cartilha da futilidade.

O roteirista e diretor Tom DiCillo já chamou a atenção dos fãs do cinema americano independente em filmes como “Johnny Suede” e “Uma Loira de Verdade”, entre outros. Já dirigiu seriados de TV e costuma fazer bonito no circuito dos festivais. Não é, todavia, um diretor de estrondosos sucessos de público, e certamente também não o será com “Delírios”. Talvez por isso mesmo seu trabalho – cheio de cinismo e sarcasticamente inteligente – deve ser apreciado com atenção por quem gosta de ver cinema nas entrelinhas (ou seria entrefotogramas?).
Steve Buscemi e Michael Pitt (nada a ver com Brad) proporcionam uma excelente química na tela, auxiliados por diálogos afiados e agridoces alfinetadas contra o universo dos supostos “famosos” que contaminam a mídia mundial.

Ambientado numa Nova York gélida e entristecida. “Delírios” é o chamado programa “cult” para paladares refinados.