“DEPOIS DA TERRA” É ENTRETENIMENTO QUE ABUSA DA PREVISIBILIDADE.

É um filme de ficção científica. Mas isto é mero detalhe. “Além da Terra”, antes de mais nada, trata dos bons e velhos tema do pai dominador sobre o filho reprimido, e do rito de passagem da adolescência para a vida adulta. Se ele se passa no ano mil, 2.000 ou 3.000, importa pouco.

No caso, o ano é 3.000. Os humanos já há muito tempo abandonaram a Terra, esgotada em seus recursos naturais, e colonizaram outro planeta. Neste contexto, o impassível general Cypher Raige (Will Smith) se prepara para uma última missão antes da aposentadoria. Como seria algo de rotina, Cypher é convencido pela esposa a levar junto com ele o filho adolescente Kitai (Jaden Smith, filho de Will também na vida real), que está vivendo um período difícil de relacionamento familiar.
Não é necessário ser um gênio do cinema para saber que, obviamente, a missão dará errado, colocando pai e filho em situações limites onde um dependerá do outro e ambos percorrerão o famoso “arco dramático” de aprendizado e superação.
Para quem não se importa em ver um filme bastante esquemático, na mesma linha de vários outros que enfocam o relacionamento pai/filho sob um mesmo prisma, “Depois da Terra” é um prato cheio: mero entretenimento com a chancela de produção dos grandes arrasa-quarteirão.

Há, porém, um momento em que esta fórmula se mostra esquemática demais, até para quem não liga muito para o previsível. Quando Cypher informa a Kitai tudo o que ele precisa fazer para alcançar seu objetivo, e quais as armas e recursos que ele terá para isso, tem-se a impressão que o protagonista está lendo as instruções de um destes jogos de tabuleiro, tipo avança duas casas aqui, perde a vez ali, tira uma carta acolá. O espectador mais atento (e, convenhamos, o mais desatento também), já antevê com tranquilidade tudo o que dará errado na sequência. É o auge do cinema causa/efeito tão querido aos padrões comerciais norte-americanos.

O que vemos a seguir é a confirmação episódica das expectativas, sem maiores surpresas, culminando com a aguardada rebelião adolescente que servirá como ritual do crescimento de Kitai. A maior “surpresa”, contudo, (pelo menos para quem não viu a ficha técnica do filme antes) é verificar nos créditos finais que “Depois da Terra” é dirigido por M. Night Shyamalan, irreconhecível aqui após ter brindado o cinéfilo com tantas preciosidades como “O Sexto Sentido”, “A Vila”, “A Dama na Água”, etc.

Saudades do bom e velho Shyamalan…