“DEPOIS DE LÚCIA” RETRATA O BULLYING COM SERIEDADE E VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA.

Cada vez mais violento e preocupante em várias partes do mundo, o chamado “bullying” não é exatamente uma novidade no cinema. Porém, dificilmente o tema foi tratado com tanta crueza e crueldade como em “Depois de Lúcia”.

Coproduzido por França e México, o filme se inspira abertamente na estética artístico-europeia de grandes planos, câmera parada, longos silêncios e montagem elíptica. A proposta é de reflexão. Ainda que boa parte do filme se passe no ambiente escolar, o roteirista e diretor Michel Franco foge com sucesso dos desgastados clichês do gênero: nada de valentões batendo em nerds, nem de garotas populares, líderes de torcida ou zagueirões sarados.
Trabalhando com não atores, Franco extrai do seu filme uma crueldade quase documental. E diz que o fez preocupado com os alarmantes índices de violência que assolam o seu México.

Vencedor da Mostra “Un Certain Regard”, no Festival de Cannes,
“Depois de Lúcia” fala de Roberto e sua filha adolescente Alejandra, que mudam de cidade em busca de uma nova vida após a morte da mãe, a Lúcia do título, que jamais aparece no filme. O silêncio acentua a dor da perda. A câmera, invariavelmente distante, sublinha o distanciamento destes dois protagonistas machucados demais para enfrentar olho no olho as suas tristezas. O clima é denso, o recomeço é duro. E tudo piora quando Alejandra passa a sofrer bullying na escola. Não um bullying de comédia americana, mas de drama mexicano. Forte, pesado, quase insuportavelmente dolorido. Aumenta a dor, aumenta o silêncio, aumenta a distância pai/filha. Sobra pouco espaço para a pouca Humanidade que possa existir no ser humano.

Um ser que de humano se transforma em selvagem. Muda e cruelmente selvagem. Prepare-se para um soco no estômago.