DEPOIS DE MARIGHELLA, SEU JORGE AGORA É PIXINGUINHA.

Por Celso Sabadin.
Depois de ter dois dos filmes que protagoniza “travados”, Seu Jorge parece que finalmente desencantou. Além do conhecido caso de “Marighella”, que demorou dois anos para alcançar as telas, chega agora a vez da estreia de “Pixinguinha, um Homem Carinhoso”, outro longa que teve problemas para finamente encontrar seu público.
O projeto é antigo, foi contemplado por leis de incentivo à Cultura ainda em 2006, houve uma primeira tentativa de filmagem sete anos depois, por ocasião do aniversário de 40 anos da morte de Pixinguinha, mas não saiu do papel. Em 2016, a diretora Denise Saraceni convidou a roteirista Manuela Dias para reorganizar todo o material, e um novo roteiro foi desenvolvido. Agora foi.
Com produção da Ipê Artes e coprodução do grupo Globo (Globo Filmes + Globoplay + Telecine + Canal Brasil) em parceria com a RioFilme e a Dowtown, “Pixinguinha, um Homem Carinhoso” finalmente está nos cinemas.
Dirigido por Denise Saraceni e Allan Fiterman , o longa segue a linha tradicional das cinebiografias clássicas, contando a história da vida e da obra de Alfredo da Rocha Vianna Filho, muito mais conhecido como Pixinguinha, interpretado por Seu Jorge.
Há uma evidente alternância de momentos inspirados (a amizade desenvolvida entre o compositor e o homem que iria assaltá-lo, por exemplo) e outros nem tanto, como uma narração em off mais que desnecessária antecipando que Pixinguinha, ainda garoto, iria sair da partitura à qual deveria se ater, eliminando assim o impacto de uma cena que poderia ter sido memorável.
Algumas destas narrações em off infelizmente se mostram necessárias, na medida em que transmitem informações pertinentes ao desenvolvimento da trama que – pelos já citados problemas do projeto – não puderam ser filmadas. Não é o desejável, mas foi o possível.
Outras, porém, são puro vício do cinema brasileiro, como acontece em demasia na nossa produção.
Muitos destes entraves narrativos são compensados pela boa direção de elenco, que confere vida e verossimilhança aos seus personagens – principalmente através de Seu Jorge e Taís Araújo, o casal principal – que dominam a tela com vigor e carisma.
Se, por um lado, o filme tem momentos de fragilidade (como Pixinguinha exclamando “Esta pequena é notável!”, ao se referir a Carmen Miranda), por outro lado tem achados emocionantes, como – sem querer dar spoiler – a ligação passado/presente obtida pela presença documental da Banda de Ipanema.
Não chega a ser uma obra genial, à altura do intenso talento de seu objeto, mas tem o grande e inegável mérito de registrar via audiovisual, com alma e autenticidade, um dos maiores talentos artísticos de toda a história brasileira.
E como estamos precisando destes talentos e destes registros!