“DESAPARECIDOS” ABORDA O TRÁFICO DE ESCRAVAS SEXUAIS

O que o cineasta alemão Roland Emmerich – famoso como produtor e/ou diretor dos filmes-pipoca Independence Day, 10.000 AC e Malditas Aranhas – estaria fazendo na ficha técnica de um trabalho denso e sério como Desaparecidos”? Na verdade, todo o projeto do filme teve início em 2003, quando o repórter e escritor Peter Landesman, da New York Times Magazine, investigou bairros pobres da Cidade do México para uma reportagem sobre escravidão sexual. O resultado foi a matéria “Sex Slaves on Main Street”, de grande repercussão. Daí foi um passo para o assunto chamar a atenção da produtora cinematográfica Rosilyn Heller, que se interessou em transformar a história em filme. Ela, por sua vez, convidou seu amigo e parceiro Roland Emmerich para a co-produção, e tudo acabou dando certo.
Bem diferente da maioria dos filmes de Emmerich, “Desaparecidos” é um trabalho que se leva a sério, e que também deve ser visto como tal. A ação começa na periferia da cidade do México, onde a bonita Adriana (Paulina Gaitan), de apenas 13 anos, é seqüestrada por traficantes sexuais. Seu irmão Jorge (Cesar Ramos), apenas quatro anos mais velho, entra em desespero, e sai alucinadamente em busca da menina. Logo ele percebe que o tráfico sexual é muito mais atuante e poderoso em sua cidade do que se poderia supor: ninguém se dispõe a ajudá-lo e sua busca se torna cada vez mais solitária.
A única pessoa que poderá amenizar o martírio de Jorge é o investigador norte-americano Ray (Kevin Kline), um sujeito taciturno e com alguns segredos a esconder. Durante a busca, nasce entre ambos uma conturbada relação que mistura amizade, confiança, e um profundo abismo cultural que divide os vizinhos México e EUA.
Através de uma fotografia granulada e escura, o jovem diretor alemão Marco Kreuzpaintner consegue imprimir ao seu filme uma atmosfera de horror e tensão bastante condizente ao tema. A nervosa câmera na mão sublinha o aspecto de denúncia social, e as afinadas interpretações de todo o elenco passam com eficiência a necessária sensação de credibilidade.
Repare também na interessante discussão entre os dois protagonistas sobre quem poderia ou não ser chamado de “Americano”.