DESASTROSO, “UM SUBURBANO SORTUDO” CONFUNDE HUMOR COM GROSSERIA.

Por Celso Sabadin.

É difícil precisar. Talvez tenham sido as pressões dos anos de chumbo da ditadura militar. Talvez sejam os séculos de repressão moral da nossa colonização católica. Não sei dizer, não sou especialista em questões socioculturais, mas o fato é que criou-se em nossa cultura o conceito de que ser grosseiro e ofensivo é o mesmo que ser engraçado. E parte do humor produzido no Brasil expressa de maneira bem clara este tipo de pensamento. Não quero dizer que o fenômeno não ocorra em outros países, cuja cultura eu não conheço de forma tão intensa como a nossa, mas o fato é que o cinema, obviamente, reflete bem claramente este pensamento. E “Um Suburbano Sortudo” é a prova mais recente disso.

O mote do filme é dos mais antigos na história das comédias: personagem simplório, de classe baixa, recebe uma herança milionária e é imediatamente arremessado no mundo dos ricos, onde o choque cultural promoverá as situações que levarão ao riso. Até o final da trama, claro, será passada a mensagem que vale mais a simplicidade e a espontaneidade dos puros de coração que a ganância dos que já foram corrompidos pelo poder e pelo dinheiro. Um argumento jurássico, mas que ainda poderia funcionar nos dias de hoje, caso fosse desenvolvido com um mínimo de inteligência e bom humor, o que não acontece neste filme de Roberto Santucci (o mesmo da trilogia “Até que a Sorte nos Separe”). O que se vê em “Um Suburbano Sortudo” é apenas uma sucessão de agressões, grosserias e baixarias, de preconceitos contra tudo e contra todos, que alguém um dia acreditou que poderia render uma comédia.

O filme nem sequer busca um viés brasileiro. Mesmo utilizando um personagem bastante carioca, e salpicando aqui e ali algumas supostas críticas contra a situação econômica do Brasil, “Um Suburbano Sortudo” utiliza as mesmas formulações formais da comédias norte-americana de, por exemplo, Adam Sandler, os  mesmos tempos, e a mesma formatação de roteiro onde, na última parte da trama, a comédia descamba para o drama romântico, onde a maionese por fim desanda. Há até uma cena onde o ator principal interpreta vários personagens jantando na mesma mesa, igualzinho ao que já foi feito por Eddie Murphy. Isso sem falar na “solução” de roteiro onde um contrato não é válido porque o cartório não reconheceu a firma.

Ou seja, um desastre completo.