“DESERTO PARTICULAR”, TRANSPONDO FRONTEIRAS.

Por Celso Sabadin.

O equilíbrio psicológico do policial brasileiro (ou a falta dele) é pauta das mais recorrentes na nossa mídia. E nem poderia ser diferente, pois as consequências desta distorção são vistas e revistas incessantemente na sociedade. Neste sentido, “Deserto Particular”, que estreia nesta quinta-feira 25/11, é e sempre será um filme atual.

O protagonista é Daniel (Antonio Saboia), um policial curitibano pressionado pelas investigações, julgamento e prováveis sanções que virão em função de um erro grave cometido em sua carreira. Perturbado e no limite de seu desespero, ele resolve fugir de tudo e de todos. Se possível, até de si mesmo. Corta o país de sul a nordeste e embrenha-se meio sem destino pelo sertão, em busca de uma suposta Sara, que conhece apenas virtualmente.

É às margens do Rio São Francisco, no limite entre Pernambuco e Bahia, que Daniel terá de rever seus próprios conceitos relacionados às fronteiras humanas, algumas delas tão estruturais quanto o rio, mas que podem e devem ser desafiadas por uma redentora travessia. Só assim o deserto de cada um será emocionalmente irrigado.

O roteirista (em parceria com Henrique dos Santos) e diretor de “Deserto Particular”, Aly Mutitiba, tem uma trajetória similar à do seu protagonista, ainda que inversa: baiano, radicou-se em Curitiba, onde há mais de 10 anos desenvolve uma vitoriosa carreira de cineasta (“Para a Minha Amada Morta” e “Ferrugem” estão entre os seus filmes de destaque).

Ressoando ecos do ótimo “Traídos pelo Desejo” (de Neil Jordan, 1992), e realizado em coprodução com Portugal, “Deserto Particular” é o representante brasileiro no Oscar 2022.