DESPRETENSIOSO, “UM CASAL INSEPARÁVEL” É ESCAPISMO DIGNO.

Por Celso Sabadin.

A gente fica tão com o pé atrás quando vai ver uma comédia brasileira direcionada ao grande público produzida por grandes empresas do nosso mercado que bate até um medinho. Não, não é preconceito. É conceito mesmo: conceito formado a partir de várias e várias “comédias brasileiras direcionadas ao grande público produzidas por grandes empresas do nosso mercado” que usam e abusam do direito de ofender a inteligência e o bom gosto justamente deste “grande público” que elas procuram atingir.

Por isso, admito que foi com um pé atrás que comecei a ver “Um Casal Inseparável”. E também confesso que foi com um grande alívio que vi o filme até o fim, sem ter minha percepção ofendida em nenhum momento. Claro, isso não torna “Um Casal Inseparável” um grande filme, mas o fato dele não berrar na nossa orelha, não partir para a baixaria gratuita e não se apoiar somente nas fórmulas pra lá de desgastadas do nosso humor televisivo já o coloca num patamar acima da média das tais “comédias brasileiras direcionadas, etc, etc, etc,”.

Bem ao estilo zona sul carioca (nada contra, é só uma observação), a história fala de Manuela (Nathalia Dill), uma professora de vôlei antenada na contemporaneidade e que “faz a sua parte na sociedade” ao não admitir investidas machistas e ao denunciar carros que estacionam indevidamente sobre o calçadão da praia. Até que, certo dia, um dos motoristas incautos que estaciona em local proibido se apaixona pela força, pela personalidade – e, claro, pela beleza também – da professora. Ele é Léo (Marcos Veras), um médico pediatra que vai ter de rever seus conceitos se quiser conquistar o coração da moça.

A partir daí, o casal se enrola e desenrola pelos vários caminhos dos encontros e desencontros que historicamente sempre marcaram as inúmeras comédias românticas que o cinema mundial sempre produziu.

Nada genial, mas bem equilibrado entre o cômico e o romântico, e com uma boa química entre os protagonistas que nos faz relevar as fragilidades de suas motivações durante a trama. Ficaria bem melhor se o filme não caísse naquela armadilhazinha antiga de pontuar todas as piadas com algum efeitinho sonoro e/ou musical, mas isso é detalhe. Vale como diversão escapista para estes momentos difíceis.

A história original de “Um Casal Inseparável” é de Sergio Goldenberg (“Bendito Fruto”), que assina também a direção. O roteiro também é dele, em parceria com George Moura (“Getúlio” e “Redemoinho”). A dupla assinou junta as séries “O Canto da Sereia” (2013), “Amores Roubados” (2014), “O Rebu” (2014), “Onde Nascem os Fortes” (2018), e a minissérie “Onde Está Meu Coração”.

Completam o elenco Stepan Nercessian e Totia Meirelles (muito bons como os pais de Manuela), Danni Suzuki, Claudio Amado, Ester Dias, Carlos Bonow, Junno de Andrade e Cridemar Aquino.