DIDÁTICO, “SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO” CUMPRE BEM  SUA FUNÇÃO DE REGISTRO HISTÓRICO.  

Por Celso Sabadin.

O mundo inteiro de uma forma geral, o Brasil de uma forma particular e certamente até o próprio carioca de uma forma ainda mais particular, todos têm (temos) um conceito da cidade do Rio de Janeiro que, muito provavelmente, é dos mais restritos e limitados. Uns pensam no Pão de Açúcar, outros no Maracanã, outros em morros e comunidades, na Bossa Nova, no Carnaval… enfim, o Rio é tudo isso. Mas também é muito mais que tudo isso.

O documentário “São Sebastião do Rio de Janeiro – A Formação de uma Cidade” tenta ampliar este conceito, trazendo uma visão histórica da fundação, construção e reconstruções do Rio, através de imagens de arquivo, ótimas simulações em 3D, filmagens atuais e depoimentos de historiadores, arquitetos, urbanistas e outros especialistas. Tudo, claro, dentro das limitações intrínsecas dos 90 minutos de um filme.

O tom é didático e clássico, até televisivo, o que pode desagradar os fãs de um cinema mais criativo, mas que não chega a ser um problema ou demérito, respeitando-se a opção da realizadora em tentar buscar um público mais amplo e – por que não? – o mercado internacional.

Há conceitos interessantes, como a vocação do Rio para ser uma cidade dos mais variados tipos de encontros, e principalmente sua cultura de ser praticamente demolida e reconstruída algumas vezes durante sua trajetória histórica de capital mais icônica do Brasil. Fato que se repete agora para as Olimpíadas.

Percebe-se também no filme a histórica tendência dos governistas da Nação em esconder, afastar e tornar invisíveis as camadas mais pobres da população, sem que seus problemas sejam minimamente resolvidos.

Levantam-se ainda histórias saborosas, recorrentes da nossa cultura do atraso, como a do Copacabana Palace, idealizado para abrigar delegações estrangeiras que viriam ao Brasil comemorar o centenário da independência, em 1922… e que só ficou pronto em 23. Ou a da extensa reforma da área que hoje é o Campo de Santana, que no final do século 19 abrigava, lado a lado, um esgoto a céu aberto e o Senado Federal (o que atualmente faria o maior sentido simbólico, diga-se).

O único senão do filme fica por conta da narração da jornalista da Globo News Leilane Neubarth: parece que a qualquer momento ela vai querer praticar seu esporte favorito de querer apoiar um golpe de estado.

“São Sebastião do Rio de Janeiro – A Formação de uma Cidade” tem conceito, direção e produção de Juliana de Carvalho, produtora também de “O Risco – Lúcio Costa e a Utopia Moderna” e “O Diário de Tati”. Para um país de pouca memória histórica, o filme é mais do que bem-vindo.

Estreou em 26 de maio.