DIFÍCIL RESISTIR ÀS ARMADILHAS EMOCIONAIS DE “A ÚLTIMA SESSÃO”.
Por Celso Sabadin.
Já virou clichê dizer que “A Última Sessão” é o “Cinema Paradiso” da Índia. Clichê ou não, é verdade. Parafraseando John Ford, eu diria que, se o clichê é verdadeiro, imprima-se o clichê. Então, lá vai: “A Última Sessão” é o “Cinema Paradiso” da Índia.
Totó, ou melhor, Samay (Bhavin Rabari) é um garoto pobre que mora numa pequena cidade da Índia e sonha em fazer filmes. Como a sua realidade é milhões de anos luz distante da possibilidade, num primeiro momento ele se contenta em ver todos os filmes que conseguir, e em tentar fazer uma sala de cinema. Para isso, Samay vai contar com a camaradagem de Alfredo, ou melhor, Fazal (Bhavesh Shrimali), o projecionista do decadente cinema local.
É praticamente impossível para o cinéfilo não sucumbir às armadilhas emotivas deste tipo de filme que homenageia o próprio cinema. A gente se derrete todo, mesmo conhecendo as chantagens emocionais que o longa espalha pelo roteiro. Afinal, como resistir à poesia dos devaneios infantis de um protagonista que começa a descobrir um mundo diferente ao vê-lo através de pedaços de vidros coloridos? Como não se emocionar com uma sessão de cinema na qual todos os participantes criam o som ao vivo, para compensar a ausência de alto-falantes?
Junte-se a isso o fato de “A Última Sessão” não ser um filme totalmente indiano. Coproduzido entre Índia (através das empresas Monsoon, Jugaad e Roy Kapur) e França (via Incognito e Virginie Films), o longa foi cuidadosamente pensado para exalar todo o encantador exotismo do oriente, mas temperado por boas pitadas de dramaturgia europeia, visando assim uma maior penetração no mercado internacional. Em outras palavras, nada de gente cantando e dançando a cada dez minutos, como é praticamente obrigatório para o paladar cinematográfico indiano, e totalmente indigesto para o restante do planeta.
Afinal, perceba que a mensagem básica de “A Última Sessão” é que o sucesso só vem para quem sabe falar inglês.
Considerações racionais a parte, mexer com a paixão pelo cinema quase sempre rende filmes de altas voltagens emocionais. “A Última Sessão” não é exceção.
Com roteiro e direção de Pan Nalin (o mesmo de Samsara), “A Última Sessão” foi o representante indiano no Oscar 2022, e estreou nesta quinta-feira, 11/12, com exclusividade no CineSesc de São Paulo.