DIGNO, “PANTERA NEGRA” ATUALIZA COM TALENTO PERSONAGEM DOS ANOS 60.

Por Celso Sabadin.

Anos 60. O mundo estava mudando. Estouravam os mais diversos tipos de revoluções sociais e comportamentais, e as chamadas minorias brigavam por seus espaços. Questão de mercado: o mundo dos quadrinhos precisava de um herói negro. Nasce assim, pelas mãos dos lendários Stan Lee e Jack Kirby, o Pantera Negra, publicado pela primeira vez em julho de 1966 na edição 52 da “Fantastic Four”.

Transpor para o cinema a história da dinastia real do (fictício) reino africano de Wakanda, que mantém em seu poder quantidades inimagináveis do (igualmente fictício) raríssimo metal vibranium, era um velho sonho dos fãs de quadrinhos. Um sonho que finalmente se concretiza e – boa notícia! – com louvor. Com direção de Ryan Coogler (de “Creed – Nascido para Lutar”), “Pantera Negra” cumpre mais do que satisfatoriamente seu papel de apresentar as origens deste novo personagem da franquia “Vingadores”, que certamente será outro bem sucedido vendedor de bonecos, camisetas e salgadinhos os mais diversos.

Mesmo consciente que a maior função de um blockbuster de super-herói, desde os anos 70, é alavancar bilhões de vendas em licenciamentos comerciais e industriais, Coogler consegue aqui desenvolver um produto cinematográfico digno, que se não é genial, pelo menos não ofende aquele tipo de cinéfilo (me parece, em extinção) que vai ao cinema mais pelo filme que pela pipoca.

Deve-se creditar boa parte dos méritos de “Back Panther” ao roteiro bem amarrado, escrito pelo próprio diretor em parceria com Joe Robert  Cole, um estreante em longas. Misturando as obrigatórias ação e pancadaria com ficção científica, uma pitada de crítica social, espiritualismo transcendental e golpes de estado, a trama consegue ao mesmo tempo respeitar os cânones tradicional da franquia e atualizá-los a esta triste Era Trump. Só a citação “Em tempos de crise os sábios constroem pontes e os idiotas constroem muros” já vale o ingresso.

Pode-se até questionar o gosto duvidoso da direção de arte, que faz questão de misturar todas as cores e texturas existentes no mundo  para compor um visual digno da Marquês de Sapucaí, mas trata-se de um pecado menor a ser relevado.

“Pantera Negra” estreia nesta quinta, 15 de fevereiro.