“DILILI EM PARIS” CONDENA PRECONCEITOS E ENCANTA NO VISUAL.  

Por Celso Sabadin.

A trilogia “Kiriku”, “Príncipes e Princesas” e “As Aventuras de Azur e Asmar”, todos de Michel Ocelot, estão entre as animações mais marcantes da minha vida. Com traços elaborados e roteiros poéticos, Ocelot coleciona dezenas de premiações nacionais e internacionais, desenvolvendo um tipo de animação que trafega na contramão do hiperrealismo dominante no mercado.

Assim, é mais do que bem-vinda a estreia no Brasil de “Dilili em Paris”, sétimo longa do diretor, fora os curtas e filmes para televisão.

Dilili é uma garota franco-canaco (referente aos nascidos na Nova Caledônia, antiga colônia francesa na Oceania) na efervescente Paris no início do século 20. Ela trabalha num parque interpretando uma menina primitiva num espetáculo ao ar livre encenado para enganar turistas, prática comum na época. Certo dia, ela aceita o convite do jovem Orel de embarcar em seu triciclo e sair para conhecer os encantos da capital francesa.

Porém, o que deveria ser apenas um passeio acaba se transformando numa perigosa investigação, pois Dilili e Orel vão tentar descobrir quem são os componentes de uma quadrilha que está sequestrando garotinhas, causando pânico na população. Pelo caminho, eles recebem a ajuda dos mais influentes artistas, cientistas e intelectuais, como Pablo Picasso, Toulouse Lautrec, Sarah Bernhardt, Rodin e até do brasileiro Santos-Dumont.

Além de lembrar como a Paris daquela época deveria ser fascinante ao abrigar tamanho número de cérebros pensantes e corações pulsantes, “Dilili em Paris” combate os preconceitos raciais e principalmente o machismo, ao denunciar que os criminosos tinham como uma de suas principais finalidades fazer com que as garotinhas sequestradas aprendessem a se locomover “em quatro patas”, expressão que a tradução brasileira suaviza para “engatinhar”. E com o apoio do poder público. Tudo com a delicadeza de texto e encantamento de traços e cores já característicos da belíssima obra de Ocelot.

“Dilili em Paris” ganhou o César de melhor longa de animação