“DINHEIRO SUJO: POR DENTRO DA ECONOMIA SOVIÉTICA”. O TÍTULO NÃO TEM NADA A VER, MAS A SÉRIE É ÓTIMA!
Por Celso Sabadin.
Versões simplificadoras (e simplistas) da história, principalmente as difundidas pelos interesses estadunidenses, costumam dizer que Hitler foi derrotado na frente soviética por causa do intenso frio. Nada poderia ser mais incompleto. São vários os fatores que explicam a vitória russa diante do maciço ataque nazista em seu território, a partir de 1941. Alguns deles são minuciosamente investigados na série documental “Dinheiro Sujo: Por Dentro da Economia Soviética”, produção de 2024 que estreia com exclusividade no canal Curta, nesta sexta, 9 de maio.
Em dois episódios de 45 minutos cada, a série mostra a fantástica capacidade dos soviéticos em realizar uma gigantesca e inacreditável manobra que salvou o mundo de cair nas garras do nazismo.
Parece até mentira, mas é história: quando a União Soviética se viu fortemente atacada pelos alemães, em sua fronteira ocidental, a primeira preocupação de Stalin foi que sua força produtiva industrial pudesse ser ocupada em um espaço de tempo muito curto, pois a maioria das fábricas soviéticas localizava-se exatamente na parte oeste do país. A solução encontrada foi transportar as indústrias para as distantes províncias do leste, já mais próximo da Ásia, onde seria muito mais difícil o acesso dos nazistas.
Transportar fábricas e indústrias? Como? Do único jeito possível: fisicamente, desmontando-as, transportando-as de trem milhares de quilômetros adentro do país, e remontando-as mais longe dos campos de batalha. Mas quantas fábricas seriam? Dez? Vinte? Não: cerca de 1.500, incluindo a indústria cinematográfica! Ah, e os estoques e os operários vão junto. Como? Só assistindo ao documentário pra ver.
“Dinheiro Sujo: Por Dentro da Economia Soviética” é meio ciclotímico. Produzido pela França e com direção de Gil Rabier, a série parece ter medo de elogiar a União Soviética, ao mesmo tempo em que mostra e comprova ser impossível deixar de admirar a perspicácia, a força, o gigantismo e a persistência da empreitada. A série afirma também que a vitória russa no histórico cerco a Leningrado – evento que mudou os rumos da Guerra – só foi possível por causa da alta produtividade que a indústria bélica soviética alcançou após a mudança das fábricas. Porém, a série também se ocupa (e se preocupa) insistentemente em sublinhar as atrocidades cometidas por Stalin. O roteiro é uma espécie de bichinho que morde e assopra, que parece ter sido escrito por alguém pressionado por produtores de tendências políticas conflitantes.
O título da série em português piora ainda mais as coisas: no original francês, “Dinheiro Sujo: Por Dentro da Economia Soviética” se chama “Les usines de Staline face aux armées d’Hitler” (As fábricas de Stalin versus os exércitos de Hitler), o que é muito mais coerente, pois a série até fala da economia soviética, mas não tem esta conotação de dinheiro sujo. E pior ainda: Em 2021, o mesmo diretor lançou sua série documental “Les nazis et l’argent” (os nazistas e o dinheiro), que em português recebeu o título de… “Dinheiro Sujo: Por Dentro da Economia Nazista”.
Não consigo compreender esta lambança que tentou criar uma ponte entre os dinheiros “sujos” nazista e soviético. Chego até a pensar que, seja lá quem foi que traduziu os títulos para o português, ficou com medo de alguma retaliação da direita sobre qualquer comentário elogioso que a série possa fazer sobre a União Soviética. Vai saber!
Mas tudo bem, porque todo esse imbróglio vale a pena quando somos brindados pelas históricas e incríveis imagens de arquivo que conduzem a narrativa da série.
“Dinheiro Sujo: Por Dentro da Economia Soviética” pode ser visto no CurtaOn – Clube de Documentários, disponível no Prime Video Channels, da Amazon, na Claro TV+ e no site oficial da plataforma (CurtaOn.com.br).
A estreia seria em 9 de maio, às 23h. Horários alternativos: 10 de maio, sábado, às 3h e às 16h; 11 de maio, domingo, às 16h; 12 de maio, segunda-feira, 17h; 13 de maio, terça-feira, às 11h.