DIREÇÃO SEGURA E ÓTIMO ELENCO SÃO OS DESTAQUES DE “TUDO POR JUSTIÇA”.

Fui à cabine de um filme totalmente às cegas. Não sabia nada sobre ele, nem sequer seu título. Só sabia que era com o Chistian Bale, nada mais.
Logo na primeira cena aparece o Woody Harrelson. Feroz, violento, maluco. Legal. Curti. Aos poucos, foram surgindo, em papeis maiores ou menores, outros atores que eu curto muito: Sam Shepard, Zoe Saldaña, Willem Dafoe, Fortest Whitaker… uau, que time! Fui gostando cada vez mais. Fiquei me deliciando com aquele desfile de astros – alguns, como o Dafoe, que eu não via há muito tempo – e pensei: parece que o Christian Bale é um dos raros atores mirins que conseguiram decolar na carreira.

Foi quando eu me dei conta que ver um bom filme, com bom elenco, traz uma sensação de felicidade muito parecida com a de ir a uma boa festa e rever bons amigos. A relação do cinema com o crítico é tão intensa, tão diária, que muitas vezes, por mais rosa púrpura do Cairo que possa parecer, a gente acaba estabelecendo uma relação de “amizade” com aqueles astros. De mão única, é verdade, mas nada é perfeito. Ficamos pensando, em silêncio, coisas como “há quanto tempo…!” ou “nossa, ele engordou”, ou “te conheço desde jovenzinho”. É bom, muito bom. Claro que isso jamais substituirá as amizades verdadeiras, mas neste mundo em que às vezes durante a semana a gente conversa mais com assessores de imprensa que com a própria esposa, não deixa de ser um paliativo.

O filme, ah, sim, o filme. Ele se chama “Tudo por Justiça”, tradução fraquinha de “Out of Fornace”, que seria algo parecido com “Fora do Forno”, pois o protagonista trabalha numa siderúrgica. Ele é Russel (Christian Bale), o típico gente boa da cidade: bom irmão, bom filho, bom namorado, bom trabalhador. Mas que acaba se metendo com o que há de pior na escória do crime, ao buscar a redenção de seu irmão Rodney (Casey Affleck). E é bom não dizer mais nada, para não estragar surpresas.

Não que seja uma grande história, um grande roteiro, mas a direção de Scott Cooper (que anteriormente só havia feito o também muito bom “Coração Louco”, de 2009) é um primor. Sem pressa, utilizando sensivelmente elegantes elipses, Cooper vai aos poucos construindo com competência seus personagens diante do público. Um pequeno gesto aqui, um movimento sutil ali, logo estamos inescapavelmente dentro daquela pequena cidade envolvida por um clima de suave e inexorável decadência. A usina, que há gerações fornece empregos à população, vai ser fechada ”porque é mais barato trazer aço da China”, o patriarca da família está à beira da morte (também por causa da mesma usina, sugere-se numa determinada cena), e o que deveria ser a nova geração foi parcialmente destruída – literal ou moralmente – ao ser convocada para o Iraque. Nesta América de falta de empregos e excesso de guerras, impera o poder das drogas e das lutas de boxe clandestinas. Trabalhar honestamente parece ser apenas para os perdedores.

É neste cenário que emerge a figura do heroi improvável, do justiceiro que busca vingança pelas próprias mãos, tomado pela certeza da inoperância dos poderes legalmente instituídos. E é difícil não se identificar com ele. Guardadas as devidas proporções, a direção segura de “Tudo por Justiça” nos remete aos bons filmes de temática social que começaram a pipocar no cinema americano a partir dos anos 70, entrega excelentes atuações de todo o elenco, e chega até a lembrar um pouco o clima das catárticas vinganças dos filmes de Sam Peckimpah.

Nada mal pra quem nem sabia que filme ia ver…