DIRETOR DE “ESTÔMAGO” ACERTA NOVAMENTE COM O ÓTIMO “MUNDO CÃO”.

Por Celso Sabadin.

Por onde andava Marcos Jorge? Após a mais que promissora estreia no longa de ficção “Estômago”, de 2007, ele codirigiu ao lado de Fernando Severo o intrigante “Corpos Celestes” (2009) e teve uma passagem meteórica pelo circuito com o fraco “O Duelo”, no ano passado. Agora, mostrando que talento simplesmente não desaparece, o cineasta paranaense volta com força no total no excelente “Mundo Cão”, onde retoma o estilo de “Estômago”: história forte, roteiro coeso, direção segura e final inteligente.

Escrita a quatro mãos pelo próprio diretor e por Lusa Silvestre (também corroteirista de “Estômago”), a história coloca em conflito dois homens muito diferentes entre si que entram em trágica rota de colisão graças a um destes inevitáveis e lamentáveis acasos da vida. Santana (Babu Santana) é um tranquilo pai de família que trabalha no Departamento de Combate às Zoonoses ajudando a retirar cães perigosos das ruas.

E Nenê (Lázaro Ramos) é um violento criminoso que explora jogos ilegais. Será justamente em função das formas diferentes que ambos tratam e consideram os animais que o conflito da trama explodirá. Na verdade, uma metáfora das formas diferentes que cada um tem de encarar o mundo. Seja ele cão, ou não.

Assim como já havia acontecido em “Estômago”, aqui novamente a força e o vigor do filme se baseiam na qualidade do roteiro e numa direção firme que consegue extrair ótimas e verdadeiras interpretações de todo o elenco, tanto de protagonistas como de coadjuvantes.

A primeira parte de “Mundo Cão” é de puro desespero. Marcos Jorge explora com raro talento e em ritmo de thriller o maior pesadelo de todo e qualquer pai e mãe de família: o desparecimento de um filho. Com direito a surpreendentes reviravoltas. Exaurido emocionalmente o espectador, há uma segunda parte menos dramática, mas não por isso menos envolvente, onde protagonista e antagonista terão de solucionar as tensões de seus conflitos. Que não são poucos. O único senão do roteiro é a maneira como Santana revê Nenê e fica sabendo onde ele mora, para que seu destrambelhado plano de vingança possa ser arquitetado: por puro acaso, nas ruas de uma cidade do tamanho de São Paulo. Soou inverossímil, mas, enfim, a perfeição é uma meta.

Medo, tensão, desespero, surpresas, ternuras, angústias, vingança… “Mundo Cão” traz tudo isso através de ardilosas ferramentas cinematográficas, e ainda acha tempo e espaço para sacadas de bom humor. Um filme que tem tudo para fazer ainda mais sucesso que “Estômago”. Marcos Jorge voltou.

A estreia é quinta, 17 de março.