DIRETOR DE “O TAMBOR” RETORNA À 2a. GUERRA EM “O MAR AO AMANHECER”.

O letreiro avisa que o filme é uma ficção produzida a partir do estudo de novas informações que vieram à toda de um caso real. Sabemos que, em cinema, tudo isso é muito relativo. Mas não importam os detalhes, nem o quanto de realidade há de fato em “O Mar ao Amanhecer”. Importa sim que a essência da crueldade da guerra está mantida neste belo e triste filme dirigido por Volker Schlöndorff, o mesmo do clássico “O Tambor”.

O ponto de partida da trama é o atentando meio desajeitado, meio inconsequente, que a resistência francesa realiza contra dois oficiais alemães, na França ocupada. Como um dos oficiais acaba sendo morto, Hitler ordena uma punição exemplar contra os franceses: a execução de nada menos que 150 prisioneiros, para vingar a vida do alemão. Nazistamente, é óbvio que Hitler acredita que há vidas que valem mais que outras, aliás como acontece até hoje em nossa sociedade, mas isso é outra história.

A partir daí, o filme investiga as reações a esta ordem tão desproporcional, os bastidores do alto comando nazista, a sempre controversa posição dos colaboracionistas franceses, e a perplexidade dos prisioneiros.

O ótimo roteiro evita as simplificações banais e propõe personagens que vão bem além do simples unidimensionalismo. Com direito a nazistas humanizados – por que não – e discussões políticas sobre as possíveis reações ao massacre. “O francês é individualista demais para compreender uma punição coletiva”, provoca um oficial. O maior destaque, contudo, fica com a crueza do oficial responsável pelos fuzilamentos, que faz questão de cumprir a risca, item por item, um certo “manual de fuzilamento”, no qual ele acredita cegamente. Esta burocratização da morte já merece figurar entre os momentos do cinema que melhor souberam estampar a imbecilidade de todas as guerras.