DISCÍPULO DO CHRISTOPHER NOLAN ESTREIA BEM NA DIREÇÃO DE “TRANSCENDENCE”.

Terror e ficção científica estão entre os meus gêneros favoritos do cinema. Talvez até por isso eu me sinta particularmente exigente em relação a eles, e perceba uma generalizada falta de criatividade nos roteiros destes gêneros, nos últimos anos. Salvo honrosas exceções, é claro.

Assim, é mais que bem-vinda a estreia da ficção “Transcendence”, que ganha aqui no Brasil o desnecessário subtítulo “A Revolução”. O filme, se não é genial, tem pelo menos uma grande vantagens em relação aos seus similares mais recentes: o bom roteiro de Jack Paglen, totalmente estreante, mas que certamente deve ter lido muita coisa boa de Phillip K. Dick para se inspirar. O elenco também é dos bons, com Johnny Depp, Rebecca Hall, Paul Bettany, Morgan Freeman e Cillian Murphy.

A trama retoma o sempre controverso tema da inteligência artificial. Will (Depp) e Evelyn (Rebecca) formam um apaixonado casal de cientistas que realiza as mais avançadas pesquisas sobre o assunto. Até o dia em que um ativista faz um atentado contra a vida de Will. Sua apaixonada esposa decide então dar prosseguimento a um radical projeto do marido, ainda em fase de testes, na desesperada tentativa de mantê-lo vivo, pelo menos de alguma forma.
Como não podia deixar de ser, abre-se a partir daí a velha discussão sobre os limites éticos da Ciência e a eterna vontade que o Homem tem de brincar de Deus. Tudo, porém, sob a direção sóbria e elegante de Wally Pfister, que recusa os clichês fáceis e sabe como construir personagens pluridimensionais, sem ceder à banalidade do maniqueísmo bandido contra moinho.

“Transcendence” é o primeiro filme dirigido por Pfister, profissional que vem de uma muito bem sucedida carreira na direção de fotografia, tendo inclusive fotografado os três Batman da linhagem Christopher Nolan. O mesmo Nolan, por sinal, que é um dos produtores deste “Transcendence”, ao lado de Emma Thomas (não consigo escrever este nome sem rir da similaridade com “hematomas”). Infelizmente, a sessão realizada para a imprensa foi prejudicada pela péssima qualidade de projeção da sala 1 do Espaço Itaú do Shopping Frei Caneca, problema que vem se perpetuando já há um bom tempo naquele cinema, mas a simples visão de um trailer na internet já é suficiente para vislumbrar a boa qualidade da fotografia do filme, se visto numa boa projeção.

Coproduzido por Inglaterra, China e Estados Unidos, “Transcendence” não foi bem recebido pelo grande público americano, onde faturou apenas US$ 10 milhões em sua primeira semana naquele país. Mais uma prova que o filme é inteligente.