DIVERTIDAMENTE BRITÂNICO, “KINGSMAN” É A PRIMEIRA BOA SURPRESA DO ANO.

O roteiro imagina um serviço ultra secreto onde a discrição, a elegância e um terno bem cortado são fundamentais

Por Celso Sabadin.

Um personagem do filme “Kingsman: Serviço Secreto” admira a agência de espionagem da China que, ao contrário da CIA, MI6 ou Mossad, nem nome tem. “Isso  que é ser verdadeiramente secreto”, ele diz. O breve diálogo mostra bem o tom do filme: sarcástico e recheado daquela fina ironia que os britânicos sabem destilar como ninguém. Para quem gosta de humor refinado à moda inglesa, artigo em extinção no mercado do moderno cinema comercial, “Kingsman: Serviço Secreto” é um prato cheio que vem preencher uma importante lacuna.

Porém, até mesmo na terra da Rainha se sabe que refinamento e sutileza não enchem o bolso de ninguém no mundo do cinema. E como as bilheterias precisam atrair o público jovem, o filme sabiamente atua nas duas frentes ao também explorar com eficiência ótimas cenas de ação e aventura.  É nesta mistura bem dosada de riso sutil com adrenalina juvenil  que “Kingsman” se apoia para despontar como uma das primeiras ótimas surpresas cinematográficas deste ano.

Bebendo escancaradamente nas fontes de James Bond e  X-Men, “Kingsman: Serviço Secreto” é baseado nos quadrinhos  de mesmo nome criados pelo inglês Dave Gibbons e pelo escocês Mark Millar. O roteiro imagina, claro, um serviço ultra secreto de espionagem onde a discrição, a elegância e um terno bem cortado são fundamentais.  Cada membro do Kignsman, escolhido após um sistema de seleção extremamente rígido, assume o codinome de um dos Cavaleiros da Távola Redonda, e todos são comandados por um chefe que, não por acaso, é conhecido como Arthur (Michael Caine). Mas britânico que isso, nem fish and chips.

Neste primeiro filme que tem tudo para se transformar em franquia de sucesso (faturou US$ 42 milhões só no primeiro final de semana nos EUA), o agente Galahad (Colin Firth, perfeito como sempre) apadrinha o garoto rebelde Gary (o praticamente estreante Taron Egerton) apostando que ele tem talento suficiente para pertencer ao Kingsman. Ambos terão de lutar contra o terrível vilão Valentine (Samuel L. Jackson) que tem um plano para conquistar o mundo utilizando-se da pior e mais devastadora praga já criada pelo Homem em todos os tempos: o telefone celular.

Já deu para perceber que a história é o que menos importa. Interessa sim que o diretor Matthew Vaughn (o mesmo de X-Men: Primeira Classe” conseguiu obter uma química perfeita entre todo o seu elenco, equilibrando com talento as ótimas situações cômicas com as precisas cenas de ação, sem jamais subestimar a inteligência do público e, de quebra, sem medo do chatíssimo politicamente correto. Afinal, não é todo dia que se vê uma assistente de vilão com deficiência física que transforma suas próteses em afiadíssimas armas mortais.

Destaque ainda para a forte presença do ator inglês Mark Strong (de “Antes de Dormir”), que interpreta o responsável pelo treinamento e seleção dos agentes (não por acaso chamado Merlin). E repare num quase irreconhecível Mark Hamill (sim, ele mesmo) como o professor Arnold.