DIVERTIDO, NOVO “REI ARTHUR” É SUPER-HERÓI SHAKESPEARIANO CONTRA GOVERNANTE GOLPISTA.

Por Celso Sabadin.

Todo mundo conhece a lenda/história do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda, já contada várias vezes no cinema… só que não. Mesmo porque o diretor inglês Guy Ritchie (o mesmo de “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes’ e “Snatch: Porcos e Diamantes”) não faria apenas mais um remake. Este novo “Rei Arthur”, agora repaginado, lança mão de liberdades narrativas amplas o suficiente para colocar o protagonista (Charlie Hunnam) como líder involuntário de uma rebelião revolucionária que objetiva derrubar Vortigem (Jude Law), o rei golpista que usurpou o trono daquele que seria seu legítimo herdeiro. Fora Vortigem! E dá-lhe Jornada do Herói, de Joseph Campbell. Nesta releitura, Ritchie deita e rola nos temperos deste verdadeiro caldeirão de referências em que se transformou nossa cultura contemporânea.

“Rei Arthur – A Lenda da Espada” tem um pouco de tudo. O sobrinho se vingando do tio usurpador da coroa é puro Hamlet. A grandiosidade das lutas, as câmeras mirabolantes e os efeitos especiais diante dos monumentais portais do castelo medieval remetem diretamente à saga “O Senhor dos Anéis”. Arthur criança, órfão, sendo resgatado de um barco à deriva por um grupo de mulheres que desconhecem a sua origem é uma referência direta à história bíblica de Moisés, enquanto o grupo de “outsiders” vivendo na floresta e tramando contra um rei despótico tem tudo a ver com “Robin Hood”. O mesmo “Robin Hood’, por sinal, cujo novo remake, previsto para 2018, tem Joby Harold como um dos produtores. O mesmo Joby Harold coprodutor e coautor do argumento deste “Rei Arthur”. Nada é por acaso.

São claras também às alusões à Segunda Guerra, tanto no movimento de resistência civil ao déspota, como nas saudações nazistas do povo diante de um Vortigem inebriado pelo poder. Tudo isso, claro, sem falar nos inúmeros pontos de intersecção existentes entre a história do Rei Arthur e o universo Star Wars (espadas com poderes especiais, magos e magias, lutas revolucionárias, relações de poder e de família pra lá de conflituosas, etc), mas isso já nem conta, pois nunca foi segredo que a lenda de Excalibur sempre se constituiu numa das matrizes criativas de George Lucas. E vale dizer que Arthur, com a espada na mão, se transforma num verdadeiro super-herói  da Marvel (não vi se tem cena pós-créditos).

A direção sempre ágil de Ritchie é fundamental nesta atualização do mito. Como já é do costume do diretor, há cenas que a gente não sabe se está assistindo a um longa, um trailer ou um videoclipe, mas tudo é muito divertido. O final, como não poderia deixar de ser, dá margem a uma provável eventual continuação, enfatizando a enorme e ainda inacabada mesa redonda que será o ponto de encontro dos futuros cavaleiros.

Neste contexto, esta primeira parte seria algo do tipo “Arthur: Origens”. Tudo muito bem emoldurado por um caprichadíssimo desenhos de produção (ok, ok, tem uns elefantes gigantes meio fora de contexto,  mas nada é perfeito) e uma vibrante trilha sonora com ótimas percussões.

Depois deste “Rei Arthur – A Lenda da Espada”, cresce a curiosidade para ver o que Ritchie aprontará no novo “Aladin’, com Will Smith, atualmente em pré-produção.

A estreia de “Rei Arthur” é na quinta, 16 de maio.