“DIZ A ELA QUE ME VIU CHORAR” É O “EDIFÍCIO MASTER” DOS EXCLUÍDOS.

Por Celso Sabadin.
 
O clássico conceito de ser universal falando de sua própria vila assume contornos ainda mais radicais em “Diz a Ela que Me Viu Chorar”, no qual a universalidade cabe dentro de um único prédio. Não uma construção qualquer, mas o Hotel Social Parque Dom Pedro, um edifício no centro paulistano que serve de lar e abrigo para moradores que participam de um programa municipal de tratamento para dependentes de drogas químicas. Não um programa municipal qualquer, mas uma ação político-social que, sob a nova administração neoliberal meritocrata, claro, está prestes a ser extinta. Drogado não rende votos.
 
Com muita sensibilidade e coragem, a cineasta Maíra Bühler registrou em seu longa esta terrível situação de quase morte. A cada andar, a cada apartamento, a cada cubículo, o filme eterniza as mais diferentes trajetórias de seus ocupantes prestes a mergulhar em um estágio de marginalidade inacreditavelmente ainda mais excludente do atual. São dores, romances, aflições, amores, convivências, atritos os mais diversos que fluem por todos os cantos deste hotel condenado ao desaparecimento. Tudo em doses industriais de cinema verdade e emoção.
A cidade surge no documentário apenas como cenário distante, como um pano de fundo afastado por cercas, janelas e arames farpados. Os moradores vêm a cidade. O inverso, nunca.
 
“Diz a Ela que Me Viu Chorar” teve sua estreia mundial no True/False Film Festival (EUA) e participou dos festivais, Sheffield Doc Fest 2019, 37º Festival Cinematográfico Internacional Del Uruguay, sendo eleito Melhor Filme pela Associação de Críticos de Cinema daquele país, e do Cinéma du Réel, na França, no qual ganhou o prêmio The Library Award.
 
Trata-se do primeiro longa solo de Maira Bühler, cineasta com formação em Antropologia. Anteriormente ela codirigiu “Elevado 3.5” (2007), ganhador do prêmio de melhor documentário no festival É Tudo Verdade; “Ela Sonhou Que eu Morri”, vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Paulínia (2011) e de Viña del Mar (2012), e “A Vida Privada dos Hipopótamos”, que estreou o Festival de Marseille (FID) em 2014, sendo premiado no Festival do Rio e no Cine Ceará.
 
A estreia no cinema de “Diz a Ela que me Viu Chorar” é simultânea nas plataformas digitais Apple TV, Google Play/YouTube Premium, Now e Vivo Play.