DOC “AWAKE – A VIDA DE YOGANANDA” REVÊ A CHEGADA DA CULTURA ORIENTAL NO OCIDENTE.

Por Celso Sabadin.

Em tempos de atentados, intolerância, nervos à flor da pele e tomada de três pinos, vale muito a pena passar uma hora e meia dentro do cinema para assistir “Awake – A Vida de Yogananda” e conhecer melhor a trajetória de Paramahansa Yogananda, o swami indiano que em 1920 se mandou de mala e cuia para os Estados Unidos com o intuito de difundir a Yoga e a Meditação no ocidente. Pense num choque cultural: numa época da civilização humana onde sequer o rádio tinha grande penetração junto ao público, e onde website era somente o lugar onde a aranha sossegadamente tecia a sua teia, desembarca vindo do outro lado do mundo um sujeito de cabelos até a cintura dizendo que todos temos dentro de nós um imenso poder que pode ser controlado apenas com a força da mente. Seja pelo inusitado, pela sede de novidades que a sociedade norte-americana nutria naqueles “loucos anos 20”, ou pela força energética de sua proposta, o fato é que Yogananda se transformou numa personalidade midiática numa época em que esta palavra sequer existia. Suas palestras, aulas e ensinamentos lotavam auditórios, teatros e imensas salas de cinema, e sua filosofia encantava as pessoas de mentes mais abertas na mesma proporção em que causava desconfiança nos mais materialistas.

“Awake – A Vida de Yogananda” é um filme que encanta mais pelo seu conteúdo que pela sua forma. Cinematograficamente, sua estética se aproxima bastante à dos documentários televisivos estilo NatGeo ou Discovery, com aquela enxurrada de reconstituições de credibilidade sempre questionável. E pesa também o fato dele assumir abertamente uma postura sempre favorável ao personagem biografado, não se permitindo discussões, polêmicas ou posições que possam ferir ou questionar sua imagem. Por outro lado, conhecer um pouco mais sobre este precursor da cultura oriental no ocidente, que abriu as portas para o fenômeno da espiritualidade e do misticismo em terras ocidentais que só explodiria décadas depois, no auge do movimento hippie e da contracultura, é sempre gratificante.

Produzido pelos EUA, o filme é dirigido por Paola de Fiori e Lisa Leeman, ambas já indicadas ao Oscar e ao Sundance.  Paola é fundadora da Counterpoint Films. Seus documentários “Speaking in String” e “Home of the Brave” enfocam mulheres fortes e determinadas que impactaram a cultura americana. Lisa Leeman estreou na direção com “Metamorphosis: Man into Woman”, premiado em Sundance. Seu longa “One Lucky Elephant” foi considerado um dos melhores documentários de 2011.