DOCUMENTÁRIO SOBRE VAI-VAI EXTRAPOLA O SAMBA E CONTA PARTE DA HISTÓRIA DE SÃO PAULO

Por Celso Sabadin.

Num dos momentos mais significativos do documentário “Vai-Vai: 80 Anos nas Ruas”, Dona Odette, da Velha Guarda da famosa escola de samba que batiza o filme, mulher negra, certamente descendente direta de escravos que ajudaram a fazer a riqueza de São Paulo dando suas vidas nas plantações de café, solta um italianíssimo “Cáspita” como interjeição. A cena, de poucos segundos, é uma preciosa aula de sociologia, e expõe com doçura o cerne deste documentário: muito mais que simplesmente registrar a trajetória de uma das mais famosas e queridas escolas de samba da cidade, o longa “Vai-Vai: 80 Anos nas Ruas” traça também um perfil histórico da própria formação do povo paulista.

Ao investigar o bairro paulistano do Bixiga, onde nasceu a Vai-Vai  (e também berço cultural de Adoniran Barbosa), o diretor Fernando Capuano fala da rica integração entre negros e italianos, peças fundamentais na construção social, cultural e – por que não – até física da capital paulista nos séculos 19 e 20. Afinal, não é toda escola de samba que, quando vence uma competição, leva a taça para a Igreja de Achiropita.

Produzido em 2012, “Vai-Vai: 80 Anos nas Ruas” encontrou no campeonato vencido pela escola neste ano de 2015 o gancho ideal para, finalmente, colocar o filme nas telas de cinema.

O longa documenta a campeã através de imagens dos icônicos ensaios de rua e sob os olhares e depoimentos daqueles que estão por trás dos bastidores de sua história. São músicos,

integrantes da velha guarda, artistas, carnavalescos, ou simplesmente pessoas identificadas com o Bairro do Bixiga que contam divertidas e folclóricas histórias da região. Entre eles, Alcione, Maria Rita, Leci Brandão, Mano Brow, Osvaldinho da Cuíca, Wilson Simoninha, Beth Carvalho e o ex-ministro Orlando Silva.

Realizado durante 5 anos, com mais de 120 horas de material captado, “Vai-Vai: 80 Anos nas Ruas” conquistou o prêmio de melhor documentário pelo público da 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Vale ver na tela grande.