DOIS ITALIANOS NO FESTIVAL IMOVISION.

Por Celso Sabadin.
Extremamente bem vinda esta 1ª edição do Festival de Cinema Europeu Imovision, realizada pela empresa distribuidora de mesmo nome. Para quem não conhece, a Imovision – dona também dos cinemas Reserva Cultural de São Paulo e Niterói – briga desde para 1987 para trazer ao (sempre viciado) circuito exibidor brasileiro o que há de melhor do cinema independente.
Sem vender os “naming rights” de suas salas (nem do Festival, pelo menos por enquanto), a empresa é um símbolo de resistência inteligente contra a pasmaceira criativa e artística dos cinemas de shoppings.
Ainda não consegui ver todos os filmes do Festival de Cinema Europeu Imovision, mas seguem aqui – por enquanto – rapidíssimos pitacos de duas produções italianas de bastante qualidade que participaram do evento
Em breve, os longas do Festival entrarão em circuito comercial, ocasião em que terão críticas mais elaboradas aqui no Planeta Tela.
ÓPERA! – CANÇÃO PARA UM ECLIPSE
Da Itália vem o italianíssimo (coproduzido com a França) “Ópera! – Canção para um Eclipse”. Trata-se de uma releitura operístico-cinematográfica contemporânea do mito grego de Orfeu, que desce aos infernos para tentar resgatar sua amada Eurídice.
O adjetivo “italianíssimo” que usei no parágrafo anterior não vem apenas do fato da produção do filme ser italiana. O roteiro e a direção de Paolo Gep Cucco e Davide Livermore fazem questão de enfatizar um dos principais traços culturais do país: o superlativismo, também conhecido como, digamos, exagero. Tudo no filme é potencializado ao extremo, eloquente, magníloquo, e por que não dizer altíloquo, crisóstomo, facundo, homilético ou parenético (sim eu dei um Google). Até o título já vem com ponto de exclamação.
Assim, quem prefere filmes de narrativa realista não vai curtir “Ópera! – Canção para um Eclipse”. Mas quem embarca na linguagem operística e não se importa de ver uma soprano explodindo em mil borboletas ao final de uma nota aguda, vai curtir. Pessoalmente, eu embarquei (não no barco de Caronte, mas embarquei) e curti.
O elenco traz participações de Vincent Cassel e da almodovariana Rossy de Palma.
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EM QUALQUER LUGAR, A QUALQUER HORA
Outro representante da Itália é “Em Qualquer Lugar, A Qualquer Hora”, drama social roteirizado por Giaime Alonge, Daniele Gaglianone e pelo também diretor do filme, o iraniano Milad Tangshir.
A trama segue Issa (vivido pelo estreante Ibrahima Sambou), um jovem africano ilegal em Torino que em busca da sobrevivência vê na entrega de comida por aplicativo sua única opção. O rapaz pega seus últimos euros e compra uma bicicleta usada para se tornar um “empreendedor” da precariedade. Os cinéfilos mais atentos logo se ajeitam em suas poltronas, vitimados pela terrível ansiedade de que aconteça com Issa o mesmo que aconteceu com Antonio em “Ladrões de Bicicletas”. E acontece.
Desta forma, “Em Qualquer Lugar, A Qualquer Hora” atualiza o clássico de 1948, trocando a crise de desemprego do pós Segunda Guerra pela tragédia da implantação da economia neoliberal.
O filme foi selecionado para vários festivais internacionais, inclusive da prestigiada Semana da Crítica em Veneza.