“DORA E GABRIEL”, MATERIALIZANDO O SUFOCO DO DESCONHECIDO.

Por Celso Sabadin.

Particularmente, gosto muito de filmes que exploram situações extremas em estéticas cinematográficas minimalistas. Casos de “Enterrado Vivo” e “A Morte e a Donzela” – apenas para citar dois exemplos – que requerem uma dramaturgia forte o suficiente para segurar a narrativa de maneira eficaz durante a duração de um longa-metragem.

“Dora e Gabriel”, novo trabalho de Ugo Giorgetti (“A Festa”, “Boleiros” e vários outros ótimos filmes da cinematografia brasileira), segue exatamente esta tocada.

Tudo começa de forma repentina, mostrando o sequestro relâmpago de um homem (Ary França) que é jogado pelos criminosos no porta malas de seu próprio carro. Uma mulher (Natalia Gonsales), que inadvertidamente testemunha a cena, é imediatamente atirada no mesmo porta malas. Apavorados e trancafiados no escuro, este homem e esta mulher que jamais se viram são agora obrigados a dividir suas mais íntimas aflições, a real presença da morte, o desconhecido, e a claustrofobia – tanto física como psicológica – ao mesmo tempo em que o desespero se potencializa através dos acontecimentos que ambos escutam, mas não vêm.

A noção básica do tempo se esvai no medo do desconhecido, que assume proporções múltiplas no escuro

Destaque ainda para a fotografia de Walter Carvalho – imaginem só – que assume com genialidade este desafio de criar a luz de um filme praticamente todo ambientando dentro de um porta malas. Mais um ótimo trabalho de Giorgetti.

A estreia é nesta quinta, 23 de setembro.