“DOSSIÊ JANGO” JOGA NOVAS LUZES SOBRE A MORTE DE JOÃO GOULART.

Nunca antes na história deste país foram produzidos tantos documentários (e ficções também, por que não?) sobre a época da ditadura militar. E pelo que vimos recentemente nas redes sociais, onde várias pessoas totalmente desinformadas chegaram a pedir a volta desta infame ditadura como forma de governo, pode-se afirmar com certeza: quanto mais filmes esclarecendo o que foi o terror daquele período, melhor.

Neste sentido, é mais do que bem-vindo o documentário “Dossiê Jango”, de Paulo Henrique Fontenelle. Antes de mais nada, cabe um esclarecimento, dado pelo próprio cineasta: “Dossiê Jango” e o aclamado “Jango”, que Sílvio Tendler dirigiu em 1984, “são dois filmes que falam de um mesmo personagem, mas com ótica e linguagem completamente diferentes”, afirma Fontenelle. “Enquanto o filme do Silvio Tendler foca mais a carreira política do Jango e o golpe militar de 64, o `Dossiê Jango´ foca não somente no lado político, como no lado humano de Jango”.

O ponto de partida deste novo documentário é, no mínimo, intrigante: a partir do fato incontestável que João Goulart, Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda morreram em circunstâncias não totalmente esclarecidas, no curto período de tempo inferior a um ano, o filme denuncia, com clareza e pés no chão, sem descambar para insanas teorias de conspiração, como os tentáculos da ditadura se entenderam por tempos e espaços que a história oficial não registra, cometendo sórdidas queimas de arquivo.
Além disso, “falamos também da angústia de Jango, seus pensamentos nos anos de exílio, que é um período pouco retratado da vida do ex-presidente, e das ameaças que ele sofria”, diz Fontenelle.

O projeto surgiu a partir de um argumento dos cineastas Paulo Mendonça e Roberto Faria, quando Roberto pesquisava a possibilidade de fazer um longa de ficção sobre João Goulart. Envolvido neste projeto, Fontenelle filmou entrevistas iniciais que serviriam como base das pesquisas, e logo se percebeu que havia um documentário dos mais instigantes já embutido ali. Uma entrevista feita com um ex-agente da policia secreta uruguaia, que afirmava ter conhecimento do suposto plano de assassinato do presidente, foi o ponto fundamental e decisivo para o início da produção do documentário.

“Dossiê Jango” prova mais uma vez que, no fundo, ainda há muito o que cavar. Por mais que setores mais conservadores da sociedade defendam a tese de que é preciso colocar uma pedra sobre tudo isso, novos fatos e novas informações incessantemente trazidas à luz comprovam que este tipo de esquecimento não é possível, pois quanto mais se pesquisa, mais pedras se encontram pelo caminho. E várias destas pedras são lápides que precisam ser honradas.

“Dossiê Jango” foi o vencedor do prêmio de melhor filme pelo júri popular da 16ª edição da Mostra Tiradentes deste ano.