“É PROIBIDO FUMAR” DIVERTE COM TERNURA E INTELIGÊNCIA.

No Festival de Gramado de 2002, a cineasta – então estreante em longas – Anna Muylaert, encantou o público e parte da crítica com a comédia dramática “Durval Discos”. Faço parte do pedaço da crítica que se encantou com o filme. Surgia, inegavelmente, um novo talento para o cinema brasileiro.
Agora, sete anos depois, o segundo longa de Anna vem a público. Grande vencedor do recém-terminado Festival de Brasília,
“É Proibido Fumar” acerta novamente, com humor, amor, emoção e ironia. Usando o velho clichê, “valeu a pena esperar”.

“É Proibido Fumar” não é um filme facilmente classificável. Basicamente é uma comédia romântica, mas é muito mais do que isso, trazendo tacadas certeiras de humor negro, drama e um já antológico momento de emoção: quando a protagonista diz que sente saudades do sabor de um bolo de aniversário que ela nunca mais experimentará (não dá para explicar; é melhor ver o filme).

Tudo gira em cima de Baby (Gloria Pires, ótima), uma solteirona da classe média paulistana, professora de violão, travada e carente. Sua maior preocupação na vida é resgatar um velho sofá, que uma falecida tia lhe prometera como herança, e que de alguma forma acabou indo para a casa de uma outra irmã. Picuinhas da vida. Baby se enche de emoção e esperança quando muda-se para o apartamento ao lado a simpática figura de Max (Paulo Miklos, também ótimo), um músico de churrascaria, tranquilão, da linha “voltando de Woodstock a pé”.

Muito rapidamente se estabelece a relação, que também muito cedo vai esbarrar nas peculiaridades de seus protagonistas: Baby é ansiosa demais, e Max é low profile demais. Sim, os opostos se atraem, mas se suportam?

“É Proibido Fumar” é um filme que se aprecia com um sorriso agridoce. Traz diálogos deliciosos e um timming cômico que beira a perfeição, ao mesmo tempo em que aplica doses de tensão e humor negro que levarão seus protagonistas a uma extrema e carinhosa situação de cumplicidade. “Durval Discos” também mesclava comicidade e dramaticidade, mas era um pouco mais radical, ao dividir seu roteiro claramente em duas metades. Já “É Proibido Fumar” prefere misturar os elementos durante todo o seu desenvolvimento. Uma química difícil de ser feita, mas concretizada com muito louvor pela diretora, que também é roteirista do filme.

Trata-se de um dos melhores filmes brasileiros deste quase terminado 2009.