É TUDO VERDADE 2024: DOIS GRANDES BRASILEIROS.

Por Celso Sabadin.

Duas das maiores representações do que existe de mais intenso e inteligente na esfera do pensamento brasileiro estão registradas em documentários nesta 29ª edição do Festival É Tudo Verdade: o sociólogo, professor e crítico carioca Antonio Candido, e o escritor e cronista gaúcho Luís Fernando Veríssimo.

Não são, todavia, documentários convencionais, que expõem de maneira clássica as trajetórias de seus biografados. Trata-se de retratos muito particulares apresentados sob os pontos de vista intimistas de seus realizadores.

ANTONIO CANDIDO – ANOTAÇÕES FINAIS

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Conforme seu próprio título já sugere, “Antonio Candido – Anotações Finais” fixa-se nas derradeiras reflexões anotadas por Candido em diários escritos a mão que ele manteve durante boa parte da vida.

Com direção de Eduardo Escorel, o ator Matheus Nachtergaele empresta sua voz aos escritos do sociólogo, revelando assim as ansiedades e aflições mais pessoais de Candido em seus últimos anos. Às portas de seu centenário, Candido se mostra de uma impressionante lucidez, discorrendo sobre as mais atuais questões da política brasileira, e confessando-se saudoso da época em que exercia seu partidarismo de forma mais atuante. Em caminhadas diárias – que vão rareando na medida em que sua mobilidade física se reduz – vê tudo, enxerga tudo, comenta tudo sempre de maneira iluminadamente crítica. Recorda de fatos e de entes queridos do passado com espantoso detalhamento, e emociona sempre que se refere à esposa, a professora Gilda de Mello e Souza.

Uma pesquisa de imagens que harmoniza a rigidez dos arquivos com o lirismo da poesia auxilia artisticamente a fluidez do longo texto.

 

VERÍSSIMO

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Já “Veríssimo” é um registro dos 15 dias que antecedem as comemorações do 80º aniversário do escritor Luís Fernando Veríssimo.

Se você passou as últimas décadas orbitando Júpiter e não sabe quem é Luís Fernando Veríssimo, também não será neste documentário que você saberá.

A proposta é outra: utilizando a estética do que se convencionou chamar de “a câmera como uma mosca na parede”, base dos documentários observativos do antigo Cinema Direto, o longa cria um clima de proximidade e intimidade entre o seu objeto de filmagem e o público.

Como se estivéssemos “infiltrados” na casa de Veríssimo, observamos de longe o cotidiano dele e de sua família envolvidos nos preparativos das comemorações. Repórteres o procuram, sempre com as mesmas perguntas. Filhos e netos aparecem, interagem, somem, reaparecem, brincam, conversam. Um personal trainer o ajuda a manter a forma. Palestras e eventos externos parecem ser mais sofridos para o cronicamente tímido Veríssimo.

Sua maior preocupação de fato reside na má campanha que o seu querido Internacional realiza naquele 2016, ano em que foi rebaixado à Série B do campeonato brasileiro. O restante parece não lhe importar muito…

Trazendo 77 filmes de 34 países, o Festival É tudo Verdade prossegue até 14 de abril em São Paulo e Rio de Janeiro. A programação completa está em etudoverdade.com.br

É tudo verdade, e é tudo gratuito.