EFICIENTE, “VENTOS DA LIBERDADE” FALA SOBRE FUGIR DA IGNORÂNCIA. IDENTIFICOU-SE?

Por Celso Sabadin.
 
Por vezes, a história contada num filme é tão inacreditável (ainda que baseada em fatos) que a narrativa tradicional e linear – sem grandes arroubos vanguardistas – acaba se tornando a melhor opção para contá-la. É o caso de “Ventos da Liberdade”, produção alemã que mostra a fantástica empreitada de duas famílias que tentam fugir da Alemanha Oriental da época da Guerra Fria.
 
Para não tirar a emoção do filme, não se deve falar muito sobre o que acontece, mas não é spoiler algum adiantar que a tentativa de fuga se dá através de um balão. Até o título original do filme – “Ballon” – já entrega. A questão maior não se centraliza no sucesso ou não da fuga, mas nas altas doses de desesperança, desespero e culpa de quem se equilibra no compulsório gume que cinde uma sociedade dominada pelas forças da truculência e da ignorância. Quem nela permanece, torna-se conivente e morre moralmente. Quem dela quer escapar pode pagar com outro tipo de morte: a física. É o famoso “se ficar o bicho come, se correr o bicho pega”, seja o bicho Stálin, Hitler ou Bolsonaro. É tudo igual.
 
Utilizando as formulações clássicas do suspense convencional (há inclusive uma construção de cena claramente inspirada em “O Silêncio dos Inocente”), “Ventos da Liberdade” é extremamente eficiente em seu ritmo, desenvolvimento de personagens e reconstituição de época. Provavelmente a larga experiência em televisão do diretor Michael Herbig (também corroteirista da obra) tenha contribuído para levar o filme a uma leitura mais próxima do grande público, o que garante a tensão até a última cena. Não por acaso, “Ventos da Liberdade” levou o prêmio de público no Festival de Washington.
 
Muitas vezes, uma boa história muito bem contada é tudo o que a gente espera de um filme.
A saga das famílias Strelzyk e Wetzel já havia sido mostrada pelo cinema na coprodução entre EUA, Alemanha e Inglaterra “Dramática Travessia”, em 1982.