“ELEFANTE BRANCO”: ATÉ FILME-FAVELA A ARGENTINA ESTÁ FAZENDO MELHOR QUE NÓS.

É bom o Brasil ganhar mesmo esta próxima Copa do Mundo. Caso contrário, a gozação dos argentinos será insuportável. Já não bastava eles ganharem da gente de goleada no quesito cinema, agora vêm os “hermanos” e fazem um “filme favela” melhor que os nossos também? Assim não dá! Só nos resta mesmo o futebol, porque em termos de cinema, eles marcaram mais um golaço à nossa frente: “Elefante Branco”.

Escrito e dirigido por Pablo Trapero (o mesmo dos ótimos “Família Rodante” e “Abutres”), o filme já abre com imagens fortes e vigorosas do protagonista sendo cinematograficamente “engolido” por uma destas imensas máquinas hospitalares de ressonância. São closes e super closes que sublinham o olhar assustado de Julián (Ricardo Darín), e que terminam por mostrá-lo de cabeça para baixo, numa metáfora do mundo invertido em que ele se encontra. Mais tarde, não por acaso, o ângulo será repetido num crucifixo. Num outro tempo fílmico, vemos Nicolás (Jérémie Renier, dos filmes dos irmãos Dardene), em alucinada fuga de algum tipo de massacre em algum lugar na selva amazônica. Cada um à sua maneira, trata-se de dois personagens presos em armadilhas.

A angústia e o desespero sem palavras destes dois protagonistas formam uma eletrizante introdução que atira o espectador para dentro da dolorosa viagem que o filme propõe. Arrebatado pelas imagens iniciais, o público é então introduzido para a história propriamente dita: num belo e longo plano sequência, ficamos sabendo que o argentino Julián e o belga Nicolás são dois padres que têm como missão tentar contornar os incontornáveis problemas de uma gigantesca favela da periferia de Buenos Aires. Esqueça a Calle Florida, o obelisco, a Avenida 9 de Julio, a Casa Rosada… “Elefante Branco” mostra uma Buenos Aires que o turista nunca viu, muito mais parecida com a Barcelona de “Biutiful”. É neste apocalíptico cenário (verídico) que os padres, mais a assistente social Luciana (Martina Gusman, esposa do diretor) vão lutar – ou pelo menos tentar – contra uma realidade bem conhecida de nós, brasileiros. Drogas, corrupção, moradias sub-humanas, invasões policiais, tiroteios… já conhecemos este filme. Ainda que nunca tão bem filmado como faz Trapero, que além de aqui reconfirmar sua sempre afiada habilidade de cineasta, também nos brinda com um roteiro consistente, que passa longe do maniqueísmo simplista, construindo personagens críveis e vigorosos.

Para nosso consolo, sempre poderemos argumentar que o filme é coproduzido com a Espanha, e que os argentinos não fizeram esta maravilha sozinhos…