ELETRIZANTE “CAIXA PRETA” ADVERTE PARA O SUCATEAMENTO DA MÃO-DE-OBRA HUMANA.

Por Celso Sabadin.

Cai um avião. O primeiro suspeito é sempre o árabe. Assim começa o eletrizante “Caixa Preta”, coprodução franco-belga que estreia nos cinemas nesta quinta, 07 de abril.

O filme tem o grande mérito de transportar o espectador para os bastidores de uma atividade profissional da qual sempre se ouve falar, mas raramente se vê: a dos analistas de caixas pretas, dispositivo fundamental para investigações de acidentes aéreos.

Aqui, o protagonista é Mathieu (Pierre Niney, que viveu o papel título em “Yves Saint Lauren”), um analista de ouvidos, dedicação e percepções fora do comum. Ele se surpreende negativamente quando é deixado de fora das investigações sobre o acidente do voo Dubai-Paris que se destroça nos Alpes Suíços. Seu estranhamento aumenta quando ele é recolocado no caso por seu chefe Phillipe (André Dussollier). Motivo: Victor (Olivier Rabourdin), o principal responsável pelas análises, desapareceu misteriosamente logo após o primeiro dia dos trabalhos.

A partir daí, “Caixa Preta” se desenvolve em um empolgante registro de mistério investigativo, compondo diante dos olhos do espectador um intrigante quebra-cabeças  de informações, reconstituições e raciocínios que possam levar às verdadeiras causas do acidente, que se mostrarão muito mais complexas e políticas que um simples árabe ensandecido.

Em sua segunda metade, o longa se dedica mais à narrativa aventuresca, reduzindo parte de seu encanto inicial, mas mesmo assim conseguindo se situar em um patamar bem acima da média para o gênero.

Sem querer dar spoiler, também são das mais interessantes as discussões que “Caixa Preta” provoca a respeito do sucateamento da mão-de-obra humana e dos limites da inteligência artificial e da ganância empresarial.

Repare ainda como a trilha musical de Philippe Rombi homenageia o hitchockiano Bernard Herrmann nos momentos mais, digamos, hitchcockianos.

Já nos cinemas.