“ELVIS E MADONA”: ÓTIMAS INTERPRETAÇÕES, SEM CLICHÊS.

Faço parte da torcida pelo filme “Elvis & Madona”. Esta não é exatamente uma afirmação muito apropriada para um crítico de cinema, mas minha análise é isenta, e como espectador me manifesto feliz com a existência de um filme como este.

O diretor e roteirista Marcelo Laffitte construiu com desenvoltura e impressionante leveza a história de uma relação incomum. O filme em nenhum momento levanta qualquer bandeira ou coloca frases feitas de inclusão e/ou militância na boca dos personagens. Pelo contrário, o que chama a atenção é a naturalidade com que os fatos se encadeiam, assumindo os rumos da história de forma a tornar obsoleta a discussão sobre a orientação sexual do casal formado. É irrelevante, e é um fato consumado e consumido. Este é um valor do roteiro, que levou o Troféu Redentor no 11º Festival Internacional do Rio de Janeiro.

Esta opção natural de Laffitte beneficia muito sua obra, que cresce ainda mais com a fantástica química que rolou entre Simone Spoladore, uma de minhas atrizes brasileiras favoritas em cinema, que faz um trabalho contido e preciso, e Igor Cotrim, que com Madona conquista sua grande oportunidade e tira de letra a riqueza de nuances da personagem. Não há clichês abundantes na composição dos tipos. Não à toa, as interpretações foram premiadas variadamente em festivais como, entre outros, o IV For Rainbow – Fortaleza – Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual e outros em Goiânia, Manaus, Natal e Sergipe.
Incomodam-me apenas as tintas pesadas com que é desenhada uma situação paralela: a relação mal-resolvida de Madona com seu antigo cafetão e namorado, um homem brucutu (Sergio Bezerra). Sem dúvida, é o momento dramático mais sombrio da trama, mas o tom diferente do resto do longa torna as cenas em que o ‘vilão’ aparece ainda mais caricatas.

De qualquer forma, o filme tem intimidade e sinceridade suficientes para agradar ao espectador. E é também uma crônica muito contemporânea do microcosmo ‘diferenciado’ que é Copacabana. A universalidade inerente a qualquer bela história de amor faz com que o alcance do filme então seja amplo e irrestrito, de espectadores paraibanos a franceses – o filme foi considerado o melhor pelo júri popular do 12ème Festival du Cinéma Brésilien de Paris. Que venham mais obras positivas como “Elvis & Madona”!

(Fonte: reprodução da revista “Junior”, com autorização do autor).