EM “BAIXEZA”, SIODMAK RETRATA A DIFICULDADE DO RETORNO.

Por Celso Sabadin.

Após passar por um período perambulando sem rumo, Steve Thompson (Burt Lancaster) decide voltar para sua Los Angeles natal, onde reencontrará seus pais, a irmã… e Anna (Yvonne de Carlo), uma antiga paixão desfeita. Sua ideia é retomar o emprego na empresa transportadora de valores e, quem sabe, reacender o velho amor. Porém, Anna agora está envolvida com o gangster Slim Dundee (Dan Duryea), para o desespero de Steve que, cego de ciúmes, tomará uma série de opções erradas na vida.
“Baixeza” aborda um dos temas mais recorrentes do noir: o retorno do protagonista bem intencionado, mas que não consegue se readaptar à sociedade de uma forma minimamente digna, quer por questões psicológicas, quer por desajustes do próprio tecido social, agora corrompido. Um assunto dos mais icônicos e representativos do pós Segunda Guerra, época na qual proliferaram no cinema norte-americano personagens mais humanos, críveis e multifacetados, como este Steve Thompson.

Com roteiro assinado por Daniel Fuchs – que mais tarde ganharia um Oscar por “Ama-me ou Esquece-me” – “Baixeza” é uma adaptação de “Criss Cross”, um dos mais de 50 livros do jornalista e escritor Don Tracy, profícuo autor de romances policiais, históricos e novelizações de filmes. A direção ficou a cargo por um dos grandes mestre do noir, o alemão Robert Siodmak, autor do clássico “Gente no Domingo”.

Repare numa rapidíssima participação de Tony Curtis (aqui em sua primeira aparição no cinema) dançando com Yvonne de Carlo, e no personagem Finchley, vivido pelo inglês Alan Napier, que nos anos 60 seria o conhecido mordomo Alfred, no seriado de TV “Batman”.
Chama a atenção também o figurino muito particular e esportivo que a figurinista Yvonne Wood desenhou para o personagem de Burt Lancaster, bem distante dos tradicionais paletós e gravatas dos anos 1940.