EM “BLACK RIO! BLACK POWER!”, O BRASIL PROCURA SUA IDENTIDADE.
Por Celso Sabadin.
Acredito que jamais serão suficientemente mapeadas, nem suficientemente compreendidas as destruições humanas, políticas e sociais causadas pela ditadura civil-militar implantada que arrasou o Brasil entre 1964 e 1985.
O longa “Black Rio! Black Power!”, exibido na noite de ontem, 08/09, na Mostra Competitiva do FAM 2024, mostra mais uma faceta deste verdadeiro holocausto. Mas… ora! Não é um documentário sobre um movimento musical? Sim, mas não é “só” sobre isso.
Dirigido por Emílio Domingos, “Black Rio! Black Power!” registra através de depoimentos e rico material de arquivo o movimento Black Rio, que nos anos 1970 bebeu na fonte da soul music para promover gigantescos bailes e manifestações musicais.
No princípio, eram a música e a dança. Aos poucos, surgiu um nascedouro de identificação cultural afro-brasileira e – infelizmente não para todos – a percepção política. As forças da ditadura começaram a temer que, com a união identitária vivenciada nos bailes, aqueles jovens negros deixassem de aceitar passivamente as truculentas batidas policiais nas quais o cidadão era acuado pelo simples fato de não ser branco. Na linguagem da ignorância ditatorial, muito preto junto era perigoso para o Brasil loiro e feliz que cantava “Esse é um país que vai pra frente” diante da televisão.
Como desgraça pouca é bobagem, o movimento Black Rio passa também, em um outro momento, a ser desqualificado por correntes de pensamentos teoricamente mais humanistas, sob a alegação que sua inspiração era estadunidense.
Entre os gorilas estatais e os porcos capitalistas, o Black Music teve de requebrar muito para sobreviver. Até que veio a maior de todas as forças, o mais destruidor e reducionista de culturas de todos os poderes: o mercado.
Estas e muitas outras interessantes, divertidas, tristes, revoltantes e inspiradoras histórias estão registradas (com muita música, claro) em “Black Rio! Black Power!”, mais um filme feito para que não nos esqueçamos que ditadura nunca mais.
Que venham muitos outros.
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