EM “DIAS PERFEITOS”, A BELEZA DOS DETALHES.

Por Rafael G. Bonesi.

O fantástico no cotidiano: “Dias Perfeitos”, de Wim Wenders, explora a beleza nos seus detalhes. Acompanhados dos olhos delicados e gentis do Senhor Hirayama (Kōji Yakusho), conhecemos sua cidade, seu trabalho e as pessoas com que convive. Ele é um homem doce, alegre e dedicado, repleto de costumes pessoais que parecem lhe manter sempre feliz. A delicadeza e os detalhes do personagem se devem muito provavelmente ao fato do roteiro ter sido escrito em conjunto por Wim Wenders e pelo próprio Kōji Yakusho, criando assim uma forte conexão entre o ator e o personagem; e entre personagem e filme.

Entrando na encantadora categoria de “filmes em que nada acontece, “Dias Perfeitos” leva sua proposta para outros patamares. Ao acompanhar a vida deste limpador de banheiros, temos a oportunidade de aprender demais sobre ele através de suas relações com as pessoas, nos permitindo conhecer o personagem em sua solidão e em companhia de outros, compreendendo assim o que ele é por um todo, de modo que os outros personagens são incapazes de compreender. A conexão formada com o protagonista por essa observação de sua privacidade o torna cada vez mais próximo de nós, criando assim uma intimidade entre ele e o público, que começa a vê-lo como um amigo querido.

Explorando a beleza do cotidiano de Hirayama, Wenders nos permite ver através até mesmo de seus sonhos, que quase marcam capítulos na história. O personagem extremamente silencioso nunca precisa dizer nada para se fazer claro de suas intenções, de seus sorrisos carinhosos ao ver o sol. e sua concentração em seu trabalho.

A dedicação de Hirayama neste seu trabalho é uma parte importante de sua personalidade. Notamos logo claramente o fato de que ele detesta fazer coisas pela metade, entregando-se completamente ao serviço, aos seus hobbies e suas emoções. O passado do personagem se mantém um mistério com pequenas migalhas de informações, que atiçam nossa curiosidade, mas sem revelar quase nada. Afinal, o próprio personagem afirma que agora é agora. E o filme respeita sua vontade.

Através de uma fotografia delicada, Wenders tem o cuidado de posicionar a câmera nas perspectivas que se entrelaçam entre a visão do personagem e a beleza superior que ele observa nas coisas, colocando ele e o espectador na posição de observadores passivos. E mesmo que o personagem não seja passivo na narrativa, somos permitidos de apenas apreciar a beleza das coisas junto a ele, da mesma maneira que ele faz.

Com diversas pequenas narrativas baseadas em suas interações com os outros e pequenos objetivos pessoais, o cotidiano de Hirayama se torna hipnotizante, ficamos empolgados em vê-lo acordar e sorrir para mais um dia, seja ensolarado, nublado ou chuvoso.

Wim Wenders e Kōji Yakusho usam respectivamente de suas lentes e sua atuação para tornar o cotidiano interessante e empolgante, criando um compilado emocionante de dias perfeitos.